Nosso ministro da Pesca

Do governo Dilma Roussef, pelo andar da carruagem ministerial, ainda vamos acabar dizendo o que se dizia do velho cinema novo: o diretor é ótimo, mas o filme, uma porcaria. O governo Dilma não é nenhum inferno, mas com a indicação do senador Marcelo Crivella para o Ministério da Pesca, o Palácio do Planalto parece que vai receber uma placa de aviso na portaria: “Deixai aqui toda esperança, ó vós que entrais!”.

Membro emérito da Confraria do Mensalão, com cadeira cativa na base aliada de qualquer governo, pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, é de tirar o chapéu o currículo do Marcelo Crivella. Porém, tudo em seu desfavor quanto ao Ministério da Pesca, pasta que muito merecia ser ocupada pelo paranaense Luiz Geraldo Mazza.

A Pesca já teve dois ou três ministros catarinas, um mais entendido que o outro em suínos. O Paraná, em compensação, sempre ficou a ver navios, quando se sabe que a história da pesca no Brasil Meridional teve seu início no longínquo ano de 1541, quando Don Alvar Nuñes Cabeza de Vaca foi nomeado ministro da pesca del Rey de España, uma função decorativa muito parecida com a do atual ministro da Pesca brasileiro. Exercendo cargo de Adelantado del Rey de España no México, Cabeza de Vaca era exímio caçador de astecas e maias e não entendia bulhufas de peixes, crustáceos e ostras coisas, quando El Rey ouviu falar de um remoto rio do hemisfério Sul, onde os peixes eram dourados, com escamas de ouro 21 quilates. Com os astecas e maias já em extinção, e com todas suas caravelas ocupadas em descobrir o caminho das Índias e de Santiago de Compostela, Sua Majestade El Rey mandou o desocupado Cabeza de Vaca pescar dourados num tal de Rio Paranazão.

Depois de Don Alvar Nuñes Cabeza de Vaca, seguramente podemos afirmar que ninguém mais entende tanto de pesca quanto Luiz Geraldo Mazza. É da lavra desse pescador, jornalista nas horas vagas, a teoria de que o Rio Iguaçu é o nosso Ganges, o nosso Reno e Curitiba a Mesopotâmia, como se o Belém e o Ivo lembrassem o Tigre e o Eufrates. Filho ilustre de Paranaguá, onde o samburá se faz de berço, Mazza começou seus estudos da pesca nos rios de Curitiba. Tão poeta quanto pescador, o mestre das barrancas nos ensina que o Rio Barigui é, e foi muito mais, um condutor de poesia. Os banhistas sem calção, “poetas que se confundiam com os gnomos da floresta”, contavam que na Volta Funda, um dos pontos de maior profundidade do Barigui, a lenda do Pinheiro arrepiava mais do que a friagem da Cascatinha. Contada nas noites de sapecada, os piás tinham certeza de que havia na Volta Funda um pinheiro submerso e que os mergulhadores mais temerários chegavam a bater com os pés em sua copa.

Luiz Geraldo Mazza para ministro da Pesca! Pode não entender de suinocultura, mas sabe o que é um peixe-porco (também conhecido como pampo). Pode não se locupletar das orações, mas é tão pescador quanto poeta ao recitar os versos João Cabral de Melo Neto: “A cidade é passada pelo rio / como uma rua / é passada por um cachorro; / uma fruta / por uma espada”.