Nossa Senhora do Bom Socorro

Amanhã a presidente Dilma Roussef vai se tornar a primeira mulher a abrir uma Assembleia Geral da ONU. No caminho entre sua poltrona de Chefe de Estado e o parlatório, a cada passo ela vai rememorar o caminho que percorreu para chegar até onde chegou. E não foi uma trilha normal. Foi longa e tortuosa, começou na Bulgária, com a caminhada ao Novo Mundo do pai, Pétar Rússev; passou pelo Colégio Nossa Senhora do Sion, em Belo Horizonte; pegou carona no movimento estudantil e na luta armada com o Comando de Libertação Nacional (Colina); tropeçou e deu com o nariz no chão ao cruzar com o golpe militar de 1964; andou de braços dados com Leonel Brizola; se abrigou na casa do Lula e com ele subiu a rampa do Palácio do Planalto, até chegar, finalmente, à capa da revista “Newsweek”: Não mexam com a Dilma! (Don’t mess with Dilma!) – diz o título, apresentando ao mundo uma mulher decidida a se transformar na versão feminina de Eliot Ness na caça aos mafiosos da vida pública brasileira. 

A distância entre o assento de Dilma Roussef e o parlatório da ONU é de apenas alguns passos. Coisa pouca, para quem está acostumada com as imensidões da arquitetura de Oscar Niemeyer. Mas nesse “step-by-step”, para usar uma expressão no principal idioma da casa, em português a presidente vai recapitular alguns pontos do discurso em átimos de segundo: a pujança da nossa economia; a faxina com os pés dentro da lama que encontrou nas bases governistas, tarefa imunda que tem lhe tomado grande parte do tempo; as dificuladades para tentar arrumar com capricho o enxoval para a Copa do Mundo, mesmo sabendo que cada peça desse legado vai lhe custar os olhos da cara; e, finalmente, quando a presidente estiver em frente ao microfone, com o mundo aos seus pés, uma dúvida atroz vai lhe gelar a espinha:

– Nossa Senhora do Bom Socorro, será que aproveito a oportunidade para explicar perante a ONU o que me leva a conviver sob o mesmo teto com gente da laia do José Sarney? Que Deus e o mundo me perdoem!