Quem abriu o Google ontem, se deparou com o (Doodle) desenho da filósofa de origem judaica Hannah Arendt(Alemanha, 14 de outubro de 1906 – Nova Iorque, 4 de dezembro de 1975) flertando com novos leitores. Para quem nunca foi apresentado a essa intelectual das mais importantes do século XX – militante antinazista, combatente na luta pelos direitos do homem, teórica da democracia e estudiosa do totalitarismo -, para seguir seus passos é melhor começar com sua biografia:“Nos passos de Hannah Arendt”.O que foi o meu caso.

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Pelo primeiro parágrafo na introdução da autora, Laure Adler, as 630 páginas do livro nos levam a descobrir uma mulher generosa, politicamente incorreta e de uma coragem excepcional.

“Descobri Hannah Arendt há vinte e cinco anos, com a leitura de “Da Revolução”, livro em que ela propõe, de maneira surpreendente, algumas pistas de reflexão política com o objetivo de nos fazer agir de modo a tornar o mundo mais humano, menos injusto. Essas pistas coincidiam com as minhas interrogações do momento. Mais tarde, li seu texto sobre Kafka, que foi uma revelação para mim. Ela descrevia um homem tão próximo de nós que quase podíamos ouvi-lo ofegar diante do terror do que pressentia. Hannah evocava seu dever de antecipar a destruição do mundo contemporâneo com frases de uma força rara e fazia desse imenso escritor um membro da comunidade, um cidadão de um mundo novo a ser construído imediatamente. Vi então que Hannah Arendt não era apenas uma intelectual, uma filósofa, uma escritora, mas também, sem dúvida, uma mulher que conhecia o sofrimento, a distância entre si e o mundo, o esfacelamento íntimo de cada um. A leitura do resto de sua obra apenas confirmou essa minha intuição: Hannah Arendt era uma mulher atormentada, dividida em duas, coagida, ao longo de toda a vida, a procurar seu lugar, tanto intelectual quanto físico, entre a língua alemã e a cultura judaica, entre o amor por Heidegger e a vida de esposa com Blücher, entre a paixão pela filosofia e o gosto pela política, entre a `vita contemplativa´ e a `vita activa´”.  

A leitura de Hannah Arendt é bem oportuna no atual momento do Brasil, principalmente quanto ao livro “Origens do totalitarismo”. Escrito na década de 1940 e publicado em 1951, nele é realçada a singularidade do totalitarismo, como uma forma de governo baseada na organização burocrática de massas e apoiada na ideologia.

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Para Hannah, “o caráter desse monstro frio chamado totalitarismo é por essência um movimento dinâmico, perpétuo, nunca fixado nem fixável, alimentado pela propaganda, por sua vez, recarregada pelas massas”. 

Menos mal que o totalitarismo só exista quando está em posse do poder – Hannah completa: “Não pode perdurar depois de uma derrota, pois as massas que aderiram a ele o abandonam, já que não encontram mais nenhum interesse nele”.

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