Noites cariocas

Aqui no Rio de Janeiro, aguardando a batalha do Maracanã, me veio a história do bem-sucedido empresário que, no aniversário da esposa, convidou um casal de amigo para a feijoada de sábado. Como se sabe, feijoada de sábado tem atestado liberatório da patroa. Naquele dia, o empresário extrapolou: ainda em meio ao almoço, e embalado por tantas caipiras, anunciou a surpresa:

– Que tal terminar o sábado no Rio de Janeiro? Jantar e hospedagem no Copacabana Palace, uma passada no Chico’s Bar, nascer do sol na Fiorentina e final da tarde em Ipanema? Já fiz as reservas e o piloto do avião está esperando no Bacacheri!

Sem entrar em detalhes logísticos, e para encurtar a aventura, na manhã de domingo os dois casais estavam retornando ao Copacabana Palace, adernados num mar de álcool, depois de passar em revista a noite carioca.

O sol a pino, quando o velho boêmio acordou esfregando os olhos, procurando por algum objeto ou ambiente familiar. Em vão, tudo ali era desconhecido, exceto um sapato largado sobre a televisão. Com muito esforço levantou-se da cama, atabalhoadamente abriu as cortinas e vislumbrou uma nesga da Baía da Guanabara, a praia, Copacabana.

– Deus do céu, onde estou? Sim, no Rio de Janeiro!

Olhou em volta e defrontou-se com o leito de casal e uma silhueta feminina completamente coberta por um fino lençol branco.

– Deus do céu, com quem estou? E quem será essa pistoleira que arrastei pra cama?

No maior silêncio, aproximou-se do misterioso corpo estendido, pegou numa ponta do lençol e, vagarosamente, começou a desvendar identidade e formas. Dos pés aos ombros, tudo não era muito estranho. Quando descortinou o rosto, afastando íntimos cabelos polacos, a velha e contumaz vítima de amnésia alcoólica não só desvendou o mistério, como também soltou um urro de felicidade e alívio:

– É você, amor da minha vida, mãe dos meus filhos! É você, é você santinha! Como é bom te ver de novo, benzinho!
O fim de semana carioca foi bem bom e, ao que se saiba, eles continuam felizes.