No smoking (2)

A nicotina prejudica o pulmão e ataca o bolso. O Ministério da Fazenda adverte: o aumento nos preços dos cigarros foi o principal responsável pela inflação. Diante de tal ameaça à saúde econômica da nação, cabe uma pergunta ao Ministério da Saúde: por que o cigarro na cesta básica dos economistas?

Duas as hipóteses para justificar o tabaco no cálculo da inflação: ou o ministro Mantega é sócio da Souza Cruz (como todo fumante), ou então a crise econômica mundial faz a equipe econômica acender um cigarro na guimba do outro, tamanha a ansiedade.

Ansiedade que também aflige a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) do Paraná, preocupada com o projeto do governador Roberto Requião que prevê o fim dos fumódromos em bares, restaurantes e casas noturnas. De tão radical, queixa-se a Abrasel, a “razzia” antitabagista vai prejudicar o faturamento do “gueto” onde os que fumam gastam 38% a mais do que os não fumantes. Com mais palavras: o não fumante bebe com moderação (quando bebe), come com moderação, gasta com moderação, vive com moderações. Já o fumante é um marginal de alta rentabilidade, inclusive para os arrecadadores de impostos.

Faz sentido, portanto, o que doi no bolso da Abrasel. Na Itália, quando o cigarro foi proibido em qualquer local fechado, em duas regiões do norte foram realizados plebiscitos para avaliar a lei antitabagista: em Trento e Bolzano, províncias autônomas que faziam parte do império austro-húngaro até o final da Primeira Guerra Mundial. Tendo fronteiras com a Áustria (Tirol e Salzburg), são dois pólos turísticos onde fortunas escorrem das montanhas nevadas. Resultado do plebiscito: Trento, que optou pelos não fumantes, teve o seu fluxo turístico prejudicado. Bolzano, que liberou geral, recebe os marginais fumantes de toda a Europa com um abraço de causar inveja aos hoteleiros trentinos.

Se bem que, de tão próximas, dá para tomar um esplêndido Pinot Bianco em Trento e, no outro lado do morro, um café expresso em Bolzano, com um cigarro depois.

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Artista plástico e cronista de especial humor, Nelson Padrela comentou o que foi escrito ontem aqui acerca do projeto de lei que o governador Roberto Requião enviou à Assembleia Legislativa. A tudo o que Padrela escreve, pinta e borda, guardo respeito e admiração, pois o conheço desde os tempos em que fazia uma das colunas mais lidas da imprensa paranaense naqueles tempos taciturnos da ditadura, a “Carta à Berta”. No extinto Correio de Notícias, o cronista nos saudava: “Bom dia, Berta!”. Daqui, cumprimento o mestre (Bom dia, Padrela!) e lhe passo a palavra:

“Muito boas suas observações, caro Dante. No entanto, como não fumante que sou, não concordo que seja na rua que os fumantes devam praticar seu esporte. A rua é de todos como a praça é dos pássaros. Na rua, até recém-nascidos são obrigados a inalar a fumaça do perigoso cigarro made in Brazil. E sabemos todos que é o fumante passivo o mais prejudicado nessa defumação toda. Por isso, se o sujeito está procurando seu câncer, que pratique seu suicídio a sós (ou em grupo de tabagistas). Quanto a não ser prestado atendimento médico às vítimas do tabagismo, isso é balela. Acredito que uma pessoa esclarecida como o governador Requião jamais deixaria de atendê-los. Gostei muito de ter lido seu texto, como sempre brilhante. Grande abraço”. (Nelson Padrela)

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E um bom dia também para a jornalista Marisa Villela, diretora do Teatro Guaíra e querida ex-companheira de redação no Correio de Notícias, que não interpretou bem a ironia do que foi por mim escrito ontem:

“Dante, esclareço que NUNCA existiram cinzeiros nas poltronas do Teatro Guaíra, que são de veludo e inflamáveis. A única área permitida aos fumantes fica na lateral no foyer e foi projetada pelo Rubens Meister, nos idos dos anos 70s. Obrigada pelo esclarecimento. Abraços, Marisa”.

Marisa, devolvo o abraço com a mesma simpatia.