Nó de cachorro

Sinto voltar ao assunto, mas o Carnaval ainda não acabou. Pelo menos para deputados e vereadores, que só retornam na segunda-feira. Fazendo um balanço da fuzarca, o “Nó do cachorro” foi o destaque da Marquês de Sapucaí e os grandes carnavalescos curitibanos só desfilam na coluna social.

Três dias antes do Carnaval, aqui neste modesto camorote escrevi que a fábrica do samba carioca passa por uma linha de montagem: viu uma, não há necessidade de acompanhar as outras.

Passada a vitória do Salgueiro, três notáveis escreveram quase a mesma coisa. A começar pela cronista Cora Rónai: “Tudo me pareceu muito igual, muito… pasteurizado. Poucas fantasias se destacavam pela originalidade ou mesmo pela beleza; pelo menos para o meu gosto, os desfiles foram pesados, previsíveis”.

Carlos Heitor Cony desengavetou um conto de Marques Rebelo para revelar em palavras o que há muito suspeitamos: é o conto de um prefeito que decide incrementar o turismo em sua cidade investindo na construção de um luxuoso palanque, cheio de camarotes, e traz uma porção de turistas na maior boca livre da região. Com o palanque cheio de bebidas e salgadinhos, toda a cidade desfilou durante três dias diante do palanque para apreciar os turistas bebendo e comendo à custa das burras municipais: “Gente que nunca tinha visto um turista, nem sabia ao certo o que era e o que fazia um turista, deslumbraram-se com o surto de civilização e progresso que o prefeito trazia à cidade”.

Neste fevereiro, no palanque do prefeito, a grande estrela foi a surpreendente passista Marisa Letícia, acompanhada do porta-bandeira Lula da Silva, que nos apresentou um novo coquetel: “Nó de cachorro”.

Afinal, para quem é feito o desfile das escolas de samba? Midas da televisão, José Bonifácio Sobrinho (Boni) é quem pergunta e responde: “Atualmente os desfiles são dirigidos a um alvo composto: um pouco para o povo, um pouco para os pagantes, um pouco para a televisão e, quase totalmente, para os jurados. Daí a diferença de reação do povão em um ensaio gratuito, da platéia paga nos dias de desfile e do resultado final do júri. O desfile não sobrevive sem ter apelo como um todo, mas na essência, ele é técnico. É preparado por cada escola para obter as melhores notas em cada quesito”.

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Enquanto no Carnaval carioca o sucesso foi o “Nó de cachorro” do Lula, no Carnaval de Curitiba o grande desfile de fantasias aconteceu na coluna do Reinaldo Bessa.

Quem disse que curitibano não é afeito ao Carnaval? Na passarela do Bessa, quem primeiro desfilou em alto estilo foi a colunável Clemilda Thomé, destaque do segundo carro da Beija-Flor. Bem dentro do enredo (no chuveiro da alegria), dona Clemilda deu um banho. E ainda mostrou-se das mais sinceras: “E você tem o samba no pé?”, perguntou o colunista. A dona da Neodent abriu seu belo sorriso e respondeu: “Não, não tenho samba no pé. Além disso, vou estar no alto do carro. Lá não dá para sambar”.

Depois da Thomé, desfilaram com igual brilho na coluna do Bessa os casais Débora e Fabrício Macedo, Adriana e Marcelo Gava, ao lado do gatão malhado Eliseu Portugal, todos fantasiados a caráter na ala “Banho de gato”. Carlos e Glô Amastha saíram na Portela e a ex-miss Paraná Mônica Gulin não foi tão feliz, sendo destaque no carro abre-alas da Vai-Vai, em São Paulo.

Já os nossos políticos desfilaram para o colunista Fábio Campana, retratados na Banda de Guaratuba, do carnavalesco e presidente da Assembléia, Nelson Justus. Mostrando que são bons de samba, lá ainda se exibiram o senador Alvaro Dias, junto com Doático Santos, o deputado Ney Leprevost e os puxadores de samba RenatoTrombini, empresário, e Orlando Pessuti, vice-governador. No próximo ano, aguardem, os ilustres foliões serão fotografados em torno de uma garrafa de “Nó de cachorro”.

Decididamente, curitibano só gosta de Carnaval se o desfile acontecer na coluna social.