Agora em julho contei aqui na coluna que, quando o escândalo do ex-diretor do FMI Dominique Strauss-Kahn pasmou a França, me veio à lembrança um antigo sucesso dos anos 60, tema do filme “Dominique”, musical infantil baseado na freira belga Soeur Sourire (a Irmã Sorriso). O Trio Esperança também gravou essa musiquinha que grudava no ouvido de qualquer mortal: Dominique, nique, nique / Sempre alegre esperando alguém que possa amar. / O seu príncipe encantado, seu eterno namorado / Que não cansa de esperar.

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Eu lembrava então que, na gíria francesa, “nique nique” é o ato sexual. Ou seja: nique nique e fuque fuque são expressões sonoras para o verbo transar. Volto ao assunto a propósito da crônica de ontem de Luiz Fernando Verissimo, onde ele conta que em Paris as aventuras de Dominique Strauss-Kahn viraram peça de teatro, comédia de ocasião, com o título de “Pas nique au Sofitel”.

Sofitel é o nome do hotel em Nova York onde Strauss-Kahn teria atacado a camareira. “Pas nique”, explica Verissimo, pronunciado como uma palavra só, significa “pânico”. Separadas, as duas palavras queriam dizer “nada de nique”. E “nique”, segundo o dicionário, é um gesto ou manifestação de desprezo, mas segundo alguns amigos franceses é uma gíria para o ato sexual. A tradução do título seria, então, “Nada de nique no Sofitel”. “Nique”, além dos seus outros significados, também aludia ao nome do próprio e priápico monsieur Dominique.

Depois da estreia o título da peça foi modificado, por imposição do hotel. Ficou sendo “Pas nique au Showfitel”. Não contente, novamente a rede Sofitel reclamou do “trocadilho baixo e ofensivo e inaceitável que mexia com a reputação da cadeia”. Com o novo protesto, o título definitivo ficou assim: “Pas nique au FMI”. Segundo Verissimo, a comédia achou um novo e definitivo nome porque, supostamente, o FMI está tão acostumado a ser criticado e gozado que nem se importa mais.

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Posso concluir dizendo que aqui no Brasil semelhante comédia de ocasião faria muito sucesso. “Nique nique e fuque fuque” é o que não falta. O único entrave é que os nossos homens públicos estão tão acostumados a ser criticados e gozados que nem se importam mais.