É um colírio para os olhos a leitura de Belmiro Valverde Jobim Castor na página de opinião da Gazeta do Povo. Nesse domingo, analisando a vocação de cágado do serviço público no Brasil, Belmiro usou o Japão como um exemplo a nos amargurar um pouco mais: “Três meses após o tsunami e terremoto do Japão que destruiu um pedaço do país, toda a infraestrutura tinha sido reconstruída e reentregue à população. Pois é. E não se tem notícias de que o Japão seja menos atento às questões ambientais, econômicas e financeiras que nossos preclaros governos”.

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Para contrapor, alguém há de argumentar que no Japão tudo é feito com tal rapidez porque lá não existe gente no singular. Os japoneses nascerem no plural. Singular é o brasileiro. Pode ser. Porque não só a jabuticaba é coisa nossa, como também o serviço público no Brasil é absolutamente singular, único e incomparável.

Lembrou o professor Belmiro do singular caso da rodovia Régis Bittencourt, ligando São Paulo a Curitiba. Está sendo duplicada há 25 anos e só agora o pequeno e malfadado trecho da Serra do Cafezal saiu da gaveta do Ministério Público e da mira dos ambientalistas. Enquanto se discutia o destino dos papagaios-da-cara-roxa – os posseiros da Serra do Cafezal –, centenas de pessoas perderam a vida ao longo de um quarto de século.

Saindo da Régis Bittencourt, singular também é o caso da Pedreira Paulo Leminski. Cinco anos após a interdição, o maior espaço de shows de Curitiba recebeu as devidas readequações exigidas pelo Ministério Público e agora a liberação só depende do parecer do juiz da Fazenda Pública onde tramita o embargo do promotor Sérgio Luiz Cordoni.

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Segundo o secretário do meio Ambiente de Curitiba, Renato Lima, mesmo assim não existe previsão de reabertura. Além do juiz avaliar se tudo está de acordo, o próximo passo será convidar os vizinhos incomodados para conhecer as melhorias feitas na pedreira, o que ainda não tem data para ocorrer. Mais. A partir desse encontro, haverá outro interrogatório com o promotor, que já tem algumas perguntas prontas: “Paro o carro onde? Se pegar fogo, saio por onde? Até que horário vai ficar em funcionamento?”.

Se a Serra do Cafezal está há mais de 25 anos matando gente na Régis Bittencourt, com certeza a Pedreira Paulo Leminski não chegará a tanto. Até porque os roqueiros não matam ninguém, costumam se matar. O que pode atrasar ainda mais a liberação são os ambientalistas, caso descubram um ninho de papagaios- da-cara-roxa na Ópera de Arame. O que é improvável. Mais fácil encontrar algumas ninhadas de cágados no lago da Pedreira.

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