Nem só de pão vive o homem

Na última semana do ano, são favas contadas: ninguém fica chupando o dedo e a regra é botar o pé na jaca. É quando o peixe morre pela boca e até os médicos nutricionistas de meia tigela juntam a fome com a vontade de comer, comem de tudo um pouco porque o que não mata, engorda. Estes esganados são farinha do mesmo saco. Pisam no tomate, comem com os olhos e depois ficam com a batata quente na mão.

Na ceia de Natal, para não comer gato por lebre, com certeza você não contou com ovos no fiofó da galinha. Com a faca e o queijo na mão, rezou para que o menino Jesus lhe ajudasse a descascar os abacaxis, para não entrar empepinado no ano que vai chegar. E também não chorou as pitangas para o Papai Noel, porque de grão em grão a galinha enche o papo e nada melhor do que ficar enchendo linguiça (sem trema e sem trauma) com a família, pois beleza não põe mesa e o importante é não ficar com cara de quem comeu e não gostou.

Apesar dos mais variados temperos, sempre é aconselhável preservar uma certa temperança: na festa da virada, não vá com muita sede ao pote. Depois do champanhe, não viaje na maionese, pensando que pimenta nos olhos dos outros é refresco e, mesmo sabendo que a carne é fraca, respeite a mulher alheia para não acabar a noite plantando batatas. Quem comeu a carne que roa os ossos, alguém pode mal aconselhar. Escreveu não leu, o pau comeu, e azar de quem ficar roendo o osso.

No bimbalhar dos sinos e espoucar dos fogos, tenha em mente que sempre é bom comer o mingau pelas beiradas, levar a vida no frigir dos ovos e cozinhar os problemas em banho-maria, do contrário comeremos o pão que o diabo amassou. Lembre-se que sem quebrar os ovos não temos omelete. Não fale muitas abobrinhas e nada de trocar alhos por bugalhos, é mau negócio. Cuidado que no meio do angu sempre tem caroço e depois não adianta chorar pelo leite derramado.

Que Jesus nos ajude a vender o nosso peixe, ganhar honestamente o leitinho das crianças e que a mãe Dele, sempre generosa, puxe a brasa para a nossa sardinha. Com açúcar e com afeto, faça e distribua o seu doce predileto. E que em 2012 sua empadinha seja contemplada com a mais bonita das azeitonas.