“A volta das caravelas” seria o título de um drama contando a saga dos brasileiros que um dia chegaram a Portugal em busca de uma vida mais leve e que agora retornam de bolso mais vazios do que nunca. Se muitos içaram as velas do infortúnio, alguns só retornam ao Brasil com passagem de volta. O carioca Fábio (foto) é um deles. Vendedor de aquarelas num dos pontos turísticos mais concorridos de Lisboa, em frente à Catedral da Sé, na subida do Castelo de São Jorge e à porta da folclórica Alfama, ele não tem motivos para voltar ao conturbado subúrbio carioca.

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De tanto vender aquarelas ao lado do colega Mohamed (paquistanês que fala apenas cinco línguas), num ligeiro olhar a dupla já sabe quanto euros o turista carrega no bolso: “Quem tem muito dinheiro são os russos, vítimas preferências dos batedores de carteira. Quando começam a examinar as aquarelas, botamos os preços lá pra cima da torre da Sé. E mesmo assim eles levam em dúzias”. Os preços variam de 10 a 30 euros, dependendo da quantidade adquirida e, principalmente, da nacionalidade do turista: “Conforme o “naipe” do freguês”, diz o carioca, contando que certa vez um russo de bom “naipe” levou três aquarelas por 100 euros cada uma. “Pagou e não bufou! Mas também, a carteira do russo transbordava de notas de 100 euros”. 

Feitas em série por um grupo de pintores, as imagens de cartão postal são coloridas sobre telas em suporte de madeira basicamente em dois formatos: A4 e A5. Distribuídas aos vendedores por uma empresa de Sintra, as aquarelas são produzidas a partir de desenhos em grafite previamente impressos. Como se fosse uma linha de montagem, cada pintor com sua especialidade – o céu, o bonde, o castelo, o verde, as águas e assim por diante. Só não compre gato por lebre: muitas são estampas serigráficas impressas em telas, o que deve dar um fabuloso às custas dos incautos russos.

De tanto vender “obras de arte” na Sé de Lisboa, Fábio poderia voltar ao Rio de Janeiro como crítico de arte: “Em vez de ficar pintando demoradas aquarelas aqui em Lisboa – ele me aconselhou -, leva um pacote dessas para o Brasil. Assina embaixo e revende por uma nota preta”.

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Fechei negócio, mas ainda vou pensar no assunto.