Neg

Depois de ver aquela emocionante contagem regressiva para o início das cerimônias no Ninho do Pássaro, os fogos de artifício (especialidade da casa)
e o ginasta Li Ning içado pelos fundilhos para acender a pira olímpica, uma dúvida nos resta: se chegar a nossa vez, o Brasil tem condições de fazer alguma coisa parecida?

Podemos dizer que sim, graças ao engenheiro Leonel Brizola. Somando as milhas na passarela do Sambódromo, com aquela maravilha de cenário que é o Rio de Janeiro, nós brasileiros estamos aptos para o que der e vier. Especialmente para quem vier e der alguns bilhões de dólares para reforçar o caixa dois dos atletas de colarinho branco. Se nos Jogos Pan-Americanos torramos mais de R$ 3 bi, quando o orçamento era de R$ 700 mi, as empreiteiras vão patrocinar um show de pirotecnia de deixar os inventores da pólvora humilhados. É só fazer as contas. Será um negócio da China.

A Ópera de Pequim brilhou na festa, representando os Guerreiros de Terracota. No Brasil, quem vai contar a nossa história é a Ópera do Malandro. Não temos a tradição dos mágicos chineses, mas a rapaziada bronzeada deste país tropical pode perfeitamente mostrar o seu valor, com o jeitinho brasileiro aliado às mágicas da malandragem.

O mundo ainda não viu nada: voando sobre Corcovado, depois de sobrevoar Copacabana, um dos nossos antigos medalhistas vai acender a pira olímpica com uma nota 100 dólares retirada da cueca. Quem viver verá: até dois mil e dercygonçalves, quando sediaremos as Olimpíadas, o Brasil será o maior produtor mundial de petróleo. Pelos cálculos do Lula e da Petrobras, o nosso Ninho das Águias (projeto de Oscar Niemeyer) vai fazer do Ninho de Passarinho chinês uma humilde gaiola.

Com luzes e cores mirabolantes, a história chinesa foi contada com uma belíssima trilha sonora. Modéstia à parte, em matéria de música, com brasileiro não há
quem possa.

Vamos abrir o espetáculo com o “Samba do Crioulo Doido”: interpretação de Roberto Carlos, com Sandy e Júnior. O mestre-de- cerimônias, como não podia deixar de ser, será Galvão Bueno.

As lágrimas serão de Sônia Bridi.

Criada e produzida pela Rede Globo, a cerimônia de abertura começa com uma revoada de dez mil papagaios (meninos de rua pendurados pelo barbante), seguidos de uma caravela voadora (aquela do Rafael Greca) comandada por Tarcísio Meira no papel de Pedro Álvares Cabral. O escritor Paulo Coelho interpreta
Pero Vaz de Caminha.

E um foguetório na Favela da Maré saúda a chegada da maconha e dos portugueses, com Eurico Miranda puxando o time do Vasco da Gama.

Em seguida vem a Abolição da Escravatura: no topo de um carro alegórico de dez andares com mulatas em profusão, a princesa Izabel (Gisele Bündchen) dá um beijo cinematográfico no Rei Pelé e, em seguida, entra Gilberto Gil cantando
e dançando com a Ala das Baianas da Beija-Flor.

Depois de mostrar o passado (o Império, a República e a Nova República) o Brasil
moderno. Com a Polícia Federal atrás de um Trio Elétrico, deputados e senadores (vestidos de verde e com galhos na testa) são jogados na fogueira, representando o futuro da floresta amazônica.

Para encerrar, uma pizza gigante sobrevoa o estádio.

E o último a sair que apague a luz, porque no Brasil tudo termina em pizza.