Para o lançamento da série “O Astro”, o desativado Presídio do Ahú serviu de cenário para uma velha pergunta: “Quem matou Salomão Hayalla?”. Aberto à visitação pública, Janete Clair não estava no local para responder a pergunta que parava o Brasil em 1978. Não estavam presentes nem a autora da novela (1925/1983) e nem mesmo os protagonistas que naqueles anos da ditadura militar fizeram do Presídio do Ahú um dos cenários mais cruéis da história da República.

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Durante as visitas guiadas ao Presídio do Ahú, os fãs dos atores Rodrigo Lombardi e Francisco Cuoco puderam assistir ao vivo a simulação de uma rebelião que muitos, ainda vivos, sentiram na própria pele. Entre os que poderiam revelar os bastidores daquele filme de terror dirigido pela Revolução de 64, está o jornalista Milton Ivan Heller, autor do precioso livro “Resistência democrática – A repressão no Paraná”. 

Junto com Milton Ivan, a vítima que soube reunir em 700 páginas o que sobrou da violência institucional, o elenco de astros poderia ter recepcionado o distinto público ao lado do empresário Walmor Weiss, ex-sargento do Exército que conheceu as atrocidades daquele presídio que reduzia seres humanos à condição de animais.

“Por ser considerado um preso muito importante – conta Walmor no livro de Milton Ivan -, fiquei incomunicável na terceira galeria e era tratado com mais hostilidades que os presos comuns. Muitas prostitutas eram levadas para a terceira galeria e através delas eu tinha contato com o mundo exterior. Levavam recados, traziam cigarros e em certas rodas de Curitiba fiquei sendo falado como o sargento das prostitutas. Ninguém podia falar comigo e eu só via um preso, condenado por oito homicídios, que me trazia comida e um jornal enviado por presos políticos civis da quarta galeria. Ele chegava e dizia baixinho: `Olha os furos!´. `Que furos?´. Ele não dizia mais nada. Aí eu vi que algumas letras haviam sido furadas com alfinete e consegui ler: `Você não está só. Agliberto´. Era uma mensagem de Agliberto Vieira de Azevedo, dirigente comunista que foi preso após a revolução”.

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Na quarta galeria havia tantos presos na mesma cela que eles ficavam em pé. Houve muitas mortes motivadas por pederastia, e um preso ficou louco. Pegou uma faca e enterrou no peito de um companheiro de cela, que morreu na hora. Entre eles havia um código de honra, e o delator era a figura mais execrada. Muitos morriam por ser espiões do diretor e Walmor Weiss nunca se conformou com a insensibilidade do pessoal da segurança: “Tratavam os presos comuns como animais em um curral de porcos. Eu não podia receber visitas, nem cartas, nada. Felizmente era solteiro, mas eu me comovia com os presos que tinham mulher e filhos. Aquilo era um inferno”.

Um inferno que não vale a pena ver de novo.

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