Não sabem o que fazem

Nem todos os políticos merecem a execração pública, conforme nós jornalista costumamos indiscriminadamente julgar. Temos o exemplo do ex-deputado Gustavo Fruet, que desde cedo teve em casa a palavra do pai Maurício Fruet. Também em casa, tenho um irmão deputado federal (Rogério Mendonça, PMDB de Santa Catarina) que desde cedo só nos trouxe orgulho. Dois exemplos entre alguns outros, seguramente. Em contrapartida, a maioria dos nossos representantes justifica o julgamento indiscriminado de nossa parte. O que corrobora a velha tese de que “existem homens de bem; homens que se dão bem; e homens que são flagrados com os bens”.

Dentre os que se dão bem, flagrados com os bens, temos ainda uma boa parcela daqueles que não sabem o que fazem. São os ignorantes de seus próprios atos, uma estranha tribo política que eu, como antropólogo de botequim, diria que são derivados dos índios munduruku.

Às margens dos rios Tapajós e Madeira, os primeiros contatos com os munduruku datam de 1768. A partir de 1950, quando missionários alemães começaram a catequese no alto do rio Tapajós, a maior dificuldade foi extirpar a ideia do pecado original e o conceito indígena do pecado: os munduruku acreditavam no inferno e nos demônios, mas no sentido de que era um destino exclusivo para o homem branco.

Essa respeitada tribo guerreira tinha seu próprio mito da criação, bem como explicações mágicas para os sofrimentos e alegrias da vida. Algumas dessas fantasias em harmonia com a teologia católica: antes do início do tempo, acreditavam eles, os alimentos caíam do céu, as frutas já nasciam maduras, as raízes eram colhidas na flor da terra, os animais já nasciam dóceis, os jardins floresciam sem exigir trabalho, os machados cortavam sozinhos e a única exigência era a imposição divina de não se olhar diretamente para o trabalho que era feito.

Mas, assim como os ancestrais Adão e Eva, um dia os munduruku desobedeceram a imposição divina e botaram o olho no trabalho a ser feito. Olharam os que estavam fazendo. Resultado da curiosidade: os machados pararam de cortar, os troncos de árvores ficaram duros e desde então os homens precisam manejar eles mesmo os machados.

Indígenas que só aceitam negócios com os brancos na base do escambo, troca de presentes, somente nos anos 1980, quando foi encontrado ouro em suas terras, os munduruku adotaram o dinheiro como valor de troca. Não são mais os mesmos índios velhos de guerra, no entanto hoje se sabe que suas explicações mágicas para os mistérios da criação são verdadeiras. Por não saberem o que fazem, os munduruku do Congresso Nacional vivem no paraíso. São tantas as aberrações que, se enxergarem o que estão fazendo, serão condenados ao machado eterno.