São tantas suspeitas, denúncias, prisões e investigações no combate à corrupção que, por via das dúvidas, não se deve dar propina nem mesmo aos guardadores de carros, barbeiros e, conforme o prestígio do restaurante, até os 10% do garçom serão suspeitos.

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Nada como um dia depois do outro para constatar como os milhões desviados ontem, tornam-se tostões, comparados com os bilhões afanados hoje. Foi assim com a Fiat Elba de Fernando Collor, em seguida os mensaleiros de José Dirceu se tornaram trombadinhas perante os processos do juiz Sérgio Moro e, agora mesmo, o escândalo da Petrobrás foi para o rodapé, depois das denúncias de fraude na Receita Federal.

Dentro dessa retrospectiva, nada mais justo que se faça uma revisão histórica do nome Moisés Lupion (fotos), o ex-governador do Paraná que até bem pouco tempo era o ícone da corrupção no Brasil. Um dos últimos jornalistas a rever o mito Lupion foi Aramis Millarch, que, em sua coluna no jornal O Estado do Paraná (11 de julho de 1986), antecipou que o advogado Raul Vaz iria lançar o livro “Moisés Lupion: a verdade” – obra com mais de 400 páginas em defesa de Moisés Lupion.

Avesso às entrevistas e justificativas, Moisés Lupion (Jaguariaíva, 25 de março de 1908 – Rio de Janeiro, 29 de agosto de 1991) levou para o túmulo a pecha de ladrão dos ladrões. Depois dele, só mesmo Paulo Maluf para lhe arrebatar o título de maior gatuno da história do Brasil.

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Segundo Millarch, desde que deixou o governo do Paraná Moisés Lupion nunca mais quis falar, publicamente, em política. Todas as tentativas feitas para que desse um grande depoimento esbarraram com sua decisão de não falar a ninguém a respeito de seu governo e, especialmente, das acusações que sofreu por muitos anos: “Com isto, falta na história contemporânea do Paraná a palavra de um de seus personagens principais, um homem que vindo de família humilde fez a maior fortuna para sua época e, em duas eleições diretas, chegou ao governo do Estado”.

Com os direitos políticos cassados pelo Regime Militar e com alguns dos bens confiscados, foi inocentado pela Justiça em 1970. No final da vida, depois de fugir do Brasil, era um homem doente, triste, vivendo no Rio de Janeiro – cidade que adotou há muitos anos, sobrevivendo com sua aposentadoria. Eventualmente vinha a Curitiba, mas sempre de forma discreta, recebendo raros amigos. “E pensar que em 1940, só na região de Cascavel, ele tinha 28 mil alqueires de terra”, recordava o amigo Raul Vaz.

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De Moisés Lupion a Zé Dirceu, de Ademar de Barros a Paulo Maluf, da Petrobrás à Receita Federal, passando pela Assembleia Legislativa do Paraná e a antessala do Palácio Iguaçu, depois do juiz Sérgio Moro nada será como antes.