Em abril de 2006 o comandante Hugo Chávez veio ao Paraná visitar o bolivariano Roberto Requião. No dia seguinte às homenagens e um concorrido almoço no Palácio Iguaçu, escrevi a seguinte crônica.

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O que nos causa surpresa nesta frenética visita de Hugo Chávez a Curitiba é saber que o comandante foi recebido para almoço no Palácio Iguaçu e não respeitou uma vírgula do manual das boas maneiras. Além de trazer sua própria comida da Venezuela, o preparo foi supervisionado pelo chefe de cozinha do governo bolivariano, uma médica e uma nutricionista integrantes da comitiva presidencial.

Compreende-se que o presidente tenha chegado com uma hora de atraso para o café da manhã, também em palácio, pois o frio curitibano da última quinta-feira convidava para um recreio sob o edredon. Compreende-se inclusive que do ritual de um chefe de Estado faça parte o bom tempero, nunca se expondo aos destemperos de um cardápio mais atrevido. Sem ironia, não estamos sugerindo que Hugo Chávez seja um destemperado.

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Chávez, por deselegante, não teve nem mesmo curiosidade de conhecer a cozinha do dono da casa. Em contrapartida, desconhecíamos os sabores e temperos da Venezuela. Fomos pesquisar os mistérios da indispensável gastronomia bolivariana e descobrimos que o “fast food” local tem o nome de “arepas”, uma espécie de beirute feito com tortillas de milho recheadas de queijos, carnes, saladas ou outros.O almoço para o comandante nem de longe lembrou o McDonald´s. Chávez teria engulhos. UGGHH! – chamaria o “hugo”.

Quem sabe o cozinheiro presidencial não tenha preparado no Palácio Iguaçu o “pabellón criollo”, um prato típico venezuelano e de rápido consumo. Uma espécie de “barreado”, o “pabellón” é feito de arroz, feijão preto, carne e banana, mas como geralmente é preparado em grandes quantidades no começo do dia, seria bom avisar aos que se servem das sobras palacianas que seu consumo depois das 15 horas não é aconselhável.

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No almoço para 60 convidados, o presidente e o governador sentaram-se frente a frente. Alguns mais graduados ocuparam a mesa principal, para 12 pessoas, enquanto os demais se acomodaram nas seis mesas em volta.Todos precedidos pelo “degustador de segurança”, naturalmente.

Quem salvou o tempero do almoço foi a primeira-dama Maristela Requião. Ainda em tempo, retirou do cardápio a coca-cola e ordenou que servissem o tropicalíssimo guaraná. Se “l´acqua nera del capitalismo” tivesse vindo à mesa, o destempero seria sentido até na sobremesa.