Sexo, poder e corrupção. A revista “Veja” traz na capa quase todos os ingredientes para vender jornais e revistas. Só está faltado um para o receituário popular: futebol. Para um campeão de audiências, no entanto, precisaria de mais dois temperos: estrelas de novela e astros do rock’n roll.
No caso das revelações da bela advogada que, segundo relata a revista, teria seduzido o círculo íntimo do poder, os elementos da trama dariam explosivo romance para a lendária escritora Adelaide Carraro, cuja mais famosa obra, “Eu e o governador”, era muito encontradiça nos dormitórios dos colégios, carinhosamente guardada pelos adolescentes embaixo do colchão. Os livros de Adelaide Carraro e os “catecismos eróticos” em quadrinhos de Carlos Zéfiro eram os preferidos como literatura de banheiro. Se bem que, entre os romances, “O Crime do Padre Amaro”, de Eça de Queirós” e “A carne”, de Júlio Ribeiro, também passavam de mão em mão.
No Paraná, “Eu e o governador” seria o título de uma série de livros contando as histórias de alcova dos governadores de ontem e de hoje. Começando por um presidente do período imperial (1853-1889), tido como o primeiro político homossexual a se esconder no armário da história.
Uma dessas histórias (aqui resumida) conto no livro “Maria Batalhão – Memórias Póstumas de uma Cafetina” (devido às preciosas ilustrações só devo lançar em agosto). Naqueles idos sem penicilina, quando os jogos do poder se passavam nos bordéis de luxo, a cafetina foi chamada urgente:
– Dona Maria Sem Calça, o Comendador Galheta não está se sentindo bem. Está branco como um lírio! Teve um ataque! Está tremendo!
– Anda! Coloquem o Comendador na cama!
– Como é pesado esse animal!
– Vamos massagear o bicho com vinagre!
-Veja o que tem na carteira dele!
– O que? Isso é tudo de dinheiro que ele tem? Nada mais nos bolsos?
– De tradicional família de Paranaguá, dinheiro nunca faltou aos Galhetas! Sempre deixou algum aqui na casa.
– Está gelado!
– Está agonizando.
– Oh! É morto!
– Temos que nos livrar do defunto!
– Pode bater as botas em qualquer lugar, menos aqui!
– Como se fosse fácil tirar daqui tantas arrobas!
– Fácil ou difícil, temos que fazer o serviço, e basta!
– Chamem o carroceiro!
– Chamo ele agora mesmo! Mas, que nos perdoe, onde largar o corpo?
– Nessa hora, lá fora só os gatos. Manda dar uma volta na praça pra ver se não tem nenhum curioso perambulando por aí, e larga o Comendador Galheta na porta do cemitério.
– No cemitério?
– No Cemitério Municipal! Depois de amanhã o jornal vai dar na manchete: “Comendador Galheta morre na porta do cemitério”.
- Isso não vai dar encrenca, dona Maria Sem Calça?
– Encrenca coisa nenhuma. Os jornais estão todos comprados pelo governo. Quando o senador Amoreira morreu entre as pernas da Gertrudes Tedesca, jogamos o corpo dele na porta da Catedral. Lembra?
– Lembro! No dia seguinte, deu no jornal: “Juiz morre na porta do céu!”.