Uma minissérie em quatro capítulos foi muito pouco para contar das estripulias da Dercy Gonçalves. Só aqui no Paraná daria um capítulo, juntando um entrevero amoroso com o jornalista João Milanez e uma desastrada estreia da atriz no Teatro de Bolso.

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Conforme Dercy, o dono da Folha de Londrina a teria estuprado num motel. Milanez negou a violência num depoimento gravado, contando que a atriz, além de tomar banho antes, teria ido feliz e saltitante para a cama. Na última vez em que esteve em Curitiba, já com 100 anos de idade, lúcida e irreverente, Dercy relembrou o caso em uma entrevista para o jornalista Zé Beto. “Ele não precisava ser bruto. Eu ia dar pra ele de qualquer maneira”.

Em dezembro de 1973, Dercy Gonçalves fez uma temporada de um mês no Teatro de Bolso, o pequeno teatro da Praça Rui Barbosa, que já não existe mais. No início daquele ano, o grupo de teatro liderado pelo jornalista e escritor Manoel Carlos Karam havia arrendado o teatro, com pouco mais de 100 lugares, para realizar ali suas montagens experimentais com pouco dinheiro no bolso e muitas ideias na cabeça. Assim, quando Dercy Gonçalves procurou Karam para arrendar o teatro por 30 dias, aquele contrato caiu do céu. “Na cama com Dercy”, assim era o título do espetáculo e assim era o que se passava no palco: uma imensa cama de casal, um casal coadjuvante, e ela no leito esplêndido. Quanto ao texto, variava de um dia ao outro, conforme os palavrões que vinham na cabeça da atriz que saiu de cena em 2008, com 101 anos.

A temporada foi um sucesso de público, apesar do desastre que ocorreu na noite anterior à estreia. Com tudo ensaiado (e precisava?) e nos seus devidos lugares, principalmente a cama, um produtor “faz tudo” que se chamava Nestlé caiu na farra e foi terminar a noite com uma prostituta no cenário da Dercy Gonçalves. Na cama com a moça, Nestlé foi tão fogoso que conseguiu quebrar os quatro pés do cenário da Dercy.

Na manhã seguinte, quando a própria Dercy foi abrir a bilheteria (ela mesma cuidava dos ingressos), estava lá a cama estatelada, manca dos quatro pés.

Fora de cena, longe das câmaras, sem a imprensa por perto, Dercy Gonçalves era uma gentil senhora. Em poucos minutos, Nestlé ouviu o repertório completo da enfurecida.

Chamado um marceneiro, o cenário foi restaurado minutos antes da estreia. Não sem primeiro conferir o molejo e os novos pés do leito avariado. Para tanto, Dercy convocou o cartunista Solda para fazer o teste de peso:

– Menino, deita comigo na cama!

Solda, ao contrário, do João Milanez, não saiu contando que tinha ido para a cama com Dercy.

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