Perdemos Rosirene Gemael, um dos nomes mais brilhantes da história do jornalismo cultural do Paraná. Nos últimos quarenta anos, tudo o que aconteceu de importante na cena cultural de Curitiba foi registrado por essa musa que, além de namorar a poesia, deixou um rol de poetas enamorados.

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Musa das Letras, podemos dizer, porque além dos jornalistas e escritores ela inspirava a todos que amavam as palavras. Sou testemunha, a fila de admiradores de Rosirene Gemael começou no início dos anos setenta, na assessoria de imprensa da Prefeitura. Numa pequena sala, três redatores disputavam a atenção daquela bela garota recém-formada pela Universidade Federal do Paraná: Jamil Snege, Manoel Carlos Karam e Nelson Padrella. Dali em diante, a fila cresceu e andou. Tantos foram os mimos poéticos por ela recebidos, disfarçadamente, que o fascínio só se fez aumentar. Até chegar ao supremo, quando a musa passou a receber fervorosos poemas de Luiz Geraldo Mazza. Com todo o respeito, sublinhe-se.

O cordão de enamorados atravessou o rio Atuba. Em 1987, depois de uma passagem por Curitiba, o escritor Ignácio de Loyola Brandão se inscreveu no rol de admiradores da jornalista que, além do mais, também era escritora premiada. Numa crônica para a página de opinião do jornal Correio de Notícias, com o título de “Carta para Rosirene”, Loyola se ajoelha perante a musa.

“Gostaria, naquela tarde, de ter continuado a conversar ali naquela sala. Paramos quando a conversa esquentava. Tenho certeza que poderíamos ter feito uma matéria “quente”, porque comecei a sentir confiança em você. Percebi que ia me abrir, contar coisas não contadas, não ditas, expor minhas dúvidas – que são muitas -, minhas perguntas, buscas. Quem sou? O que sou? Você, Rosirene, me deu abertura a certa altura”.

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Editora soberana numa fase em que o jornalismo cultural exibia um merecido e generoso espaço, agora aos 60 anos Rosirene Gemael foi se reencontrar com Jamil Snege e Manoel Carlos Karam. Com seus olhos doces, voz levemente rouca articulando com calma palavras de confiança, a Musa da Letras vai ganhar, enfim, uma legião de admiradores para a eternidade.