Mula-Sem-Cabeça

Jaguara, o Animador de Velórios dos Campos Gerais, é um dos mais atentos espectadores da novela da Câmara Municipal de Curitiba. “Pelo que se observa na ponta daquele iceberg, com o apoio de 7 dos 13 vereadores do PSDB, a oposição garantiu as 20 assinaturas necessárias para tentar derrubar o ex-presidente. Ao todo, 27 vereadores já lavaram as mãos, mas mesmo assim eu aposto que o Derosso ainda vai se transformar numa das tantas lendas do Paraná. Que não são poucas” – diz o Jaguara do alto da Serra do Purunã.

Uma dessas lendas toca de perto o Animador de Velórios dos Campos Gerais. É a do velório da virgem noiva, causo misterioso que teria ocorrido nos idos de 1928, em São José dos Pinhais. “Ipsis litteris” ao que está nos livros, é a história de dois compadres muito engraçados (daí veio a profissão do Jaguara) que iam a todos os velórios para distrair parentes e amigos dos finados. Certo dia faleceu uma moça de idade (balzaquiana, digamos) muito séria e moralista. Durante o velório, um dos compadres cochichou com o outro: “Será que era virgem mesmo?”. Por volta da meia-noite, o engraçadinho foi acometido por uma dor de barriga e foi se aliviar num capão mais próximo. Quando voltava naquela escuridão, embaixo de uma parreira de chuchu viu a noiva toda de branco, apontando para ele: “Você ainda duvida de mim?” Assustado, o espaventado pegou o amigo pelo braço e picaram a mula do velório: “Compadre, não se fala de corda na casa de enforcado”.

Por muito famosa, a lenda da Loura Fantasma perdeu a graça, afirma o Jaguara. Melhor é aquela dos jovens arruaceiros que numa noite de lua cheia, depois de muitos goles a mais, resolveram apostar quem pegava mais cruzes no Cemitério de Santa Cândida. Todos saíram à cata, quando um deles senta-se sobre um túmulo para descansar e repara numa bela garota ao seu lado. Ela o desafia a roubar uma cruz naquela noite, a sua própria, e entrega-lhe uma rosa, que ele guarda no bolso. Ao reencontrar os amigos para a contagem das cruzes, o rapaz conta do sucedido. Com o pé atrás, o grupo volta ao local e, para surpresa de todos, não encontra nenhuma lápide e nenhuma cruz. E quando o rapaz enfia a mão no bolso para se certificar de que não estaria sonhando, a terrível surpresa: a rosa havia se transformado em um pedaço de osso humano.

Com lendas como essa é que o Animador Velórios ganha a vida nos Campos Gerais. Por essas e outras é que o Jaguara acha que o caso do João Cláudio Derosso vai acabar em lenda. A lenda da Mula-Sem-Cabeça. Como se sabe, existem várias versões dessa lenda. Em alguns locais contam que a Mula-Sem-Cabeça surge no momento em que uma mulher namora ou casa com um padre. Como castigo pelo pecado cometido, perde a cabeça e transforma-se num ser monstruoso. Em outras regiões, contam que, se uma mulher perde a virgindade antes do casamento, pode se transformar em Mula-Sem-Cabeça. Mas no caso do ex-presidente da Câmara de Vereadores de Curitiba, o coitado vai virar lenda porque até os próprios companheiros de partido lhe pediram a cabeça. “Portanto, o Derosso já pode ser considerado uma Mula-Sem-Cabeça”, garante o Animador de Velórios dos Campos Gerais.