O humor curitibano tem o seu próprio espírito, o próprio sotaque e um jeito único de contar histórias. Nosso anedotário acentua a falsa ingenuidade do imigrante, o temperamento arredio e tímido da capital mais fria do Brasil.
Dentro deste figurino quase sempre com bordados eslavos, podemos apresentar o empresário Gerson Guelmann como um dos nossos melhores contadores de histórias. É um dos nossos tipos que faz uso das linhas e entrelinhas do humor para estancar o ressentimento, o rancor e a injustiça. Cultor do mais fino humor judeu – desde sempre o mais sofisticado do planeta -, Gerson sabe que uma das grandes sabedorias é rir de si mesmo.
Em tempos de Lava Jato, pedaladas fiscais, Zé Dirceu, João Vaccari, Eduardo Cunha, Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, Comitê de Ética da FIFA, o curitibaníssimo Gerson Guelmann nos conta logo abaixo uma história do seu folclore familiar, bem a propósito da moral com que notórios patifes agora se apresentam frente à opinião pública.
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A família Guelmann possuía uma área de terras perto do Desvio Ribas, município de Ponta Grossa, adquirida por meu avô Salomão. Um dia conto mais a respeito da “Fazenda Guavirova”, onde plantei um milhão e seiscentas mil árvores entre 1968 e 1972. A propriedade era cortada por duas estradas de ferro: primeiro pela antiga Curitiba-Ponta Grossa e mais tarde pela Central do Paraná.
No trecho desativado, residia o “Compadre Olegário”, funcionário da extinta RVPSC e que, já aposentado, ali continuou morando não se sabe se por concessão ou descuido da empresa. Bem idoso, foi convidado “por amigos da onça” para ir à Palmeira, acessível pelo leito da própria ferrovia. Lá chegando, e a pretexto de tomar uma cerveja, foram à “zona”.
Na volta para casa, antes mesmo de cruzar a ponte sobre o rio Tibagi, a “comadre Rita”, velha como ele, mas terrivelmente ciumenta, já estava inteirada do sucedido.
– Olegário, é verdade que você esteve na zona?
Vendo que havia caído numa arapuca, respondeu que sim.
– Olegário, é verdade que você tomou cerveja?
Nova afirmação.
– Olegário, é verdade que você dançou com uma puta?
Sentindo que trilhos e dormentes ruíam sob seus pés, Olegário tentou o impossível:
– É verdade, Rita. Mas era uma puta séria!