Monstro da Galheta

Notícias vindas do litoral do Paraná nos dão conta de que um monstro está atacando na Baía de Paranaguá, atingindo com a sua fúria da Ilha do Mel até Antonina. Sabe-se que a fera espanca pescadores, estivadores e criancinhas indefesas, mas até agora sua identidade é um mistério. É o Monstro da Galheta.

Ontem e hoje, de monstros as terras do Paraná são fartas. Temos monstros no urbanismo (Jaime Lerner), monstros no Direito (René Ariel Dotti), monstros nas artes gráficas (Miran), monstros da generosidade (Zilda Arns), monstros da camisa 9 (Keirrison), monstros da sétima arte (Marcos Jorge, do Estômago), monstros federais (Alvaro Dias e Gustavo Fruet), monstros na música (Paulinho Vítola), monstros da literatura (Wilson Bueno, Cristóvão Tezza e Wilson Martins) e um monstro que não é monstro, é um Vampiro.

O mesmo Vampiro de Curitiba que agora venceu o Prêmio Clarice Lispector com o seu mais recente livro O Maníaco do Olho Verde. Esse, mais um dos nossos monstros, um homem que Dalton Trevisan nos revela como normal, a não ser por uma estranha fixação: sexo.

Desses monstrinhos curitibaníssimos, foi que apareceu em 1943 no Bigorrilho. Aliás, é incrível como aparecem monstros no Bigorrilho. O último que apareceu chama-se Marco Dolabela, um monstro na cozinha do Bar dos Passarinhos.

O Monstro do Bigorrilho surgiu num momento histórico dramático, ao atacar uma donzela indefesa que estava sozinha em casa ouvindo pela Rádio Clube Paranaense que os russos venciam os alemães em Stalingrado, fazendo 90 mil prisioneiros na 2.ª Guerra Mundial. Depois dessa mocinha, o Monstro do Bigorrilho abriu outras frentes de batalha, espancando e assaltando transeuntes, velhinhas doentes e atacando criancinhas, com forte inclinação por meninas indefesas. Ninguém sabia ao certo de quem se tratava, era descrito apenas como um indivíduo de compleição robusta e um sorriso perverso
no canto dos lábios. Usava capa preta, andava de bicicleta (nem carro a gasogênio tinha) e desaparecia na boca do mato. Com a cabeça a prêmio, chegaram a oferecer um boi gordo para quem capturasse o Monstro do Bigorrilho, vivo ou mortinho da silva. Aumentaram o prêmio para dois bois gordos e, mesmo assim, jamais o pegaram.

A escritora e pesquisadora Thereza Lacerda (outra monstra, da crônica) conta que esse Monstro do Bigorrilho “era um monstro da melhor tradição monstruosa, mas ainda perdia de longe para o Monstro de Cananéia”, que surgiu no litoral do Paraná no século 18, e foi descrito pelo historiador Vieira dos Santos. Segundo apurou Thereza, “o nosso monstro marinho foi morto em 1733 por uma bala que saiu do bacamarte de um tal de Pedro Tavares. Tinha corpo e cabeça de touro; só a cabeça media 80 centímetros de comprimento por metro e meio de largura. O pescoço, repleto de glândulas encarnadas; a testa, com crinas crespas; as orelhas, escarlate; os olhos, pretos e redondos; as ventas, do tamanho de um punho; a boca rasgada; os beiços grossos; a barba também grossa na queixada; os dentes largos, unidos e cortantes; a língua redonda e as pernas, medindo um metro. Cada dedo media vinte centímetros, e a cauda, um metro. Os pêlos eram curtos e castanhos; gritava como lobo e, de suas carnes derretidas, escorreu azeite”.

Para não ferir suscetibilidades, lembra a cronista da Lapa, Vieira dos Santos descreve os órgãos genitais do monstro em latim. Dá para perceber que eram muito grandes e iguais aos do homem ( “Immodice longum… genitale homini simili”), e concluísse com uma pergunta: “E a feliz Dona Monstra, por onde andava?”.

Vieira dos Santos era o historiador da Çidade de Paranaguá (com ç cedilha), a mesma terra de Luiz Geraldo Mazza, outro monstro do jornalismo. Pelas características do Monstro de Cananéia, os parnanguaras estão convictos que o atual Monstro da Galheta seja um descendente da mesma estirpe e da melhor tradição monstruosa do Monstro da Cananéia.

Na semana que vem, talvez, teremos mais notícias do Monstro da Galheta. Enquanto isso, guarde esta notícia longe das crianças.