Momo à mesa

Conforme está decretado no nosso litoral, quem fornece “sustânça” à folia é o barreado, nascido entre fandangos, tamancos e rebecas. A comilança, desde o século XVIII, durava três dias e três noites, com o “barreado” sendo sucessivamente reaquecido até a última noite. Evoé, Momo! E bom apetite!

No Paraná, onde se dança o fandango e não o samba, comida é alegria. Nesse quesito, Antonina e Morretes são os expoentes. Desde 1884, a gastronomia é o enredo predileto dos nossos Momos de serra abaixo, como mostra a letra de convocação para um banquete de 200 talheres: “Após o baile, que terminará à meia-noite, recolher-se-ão todos à caverna dos petiscos”. A ilustração é de Gustave Doré, retratando em plena gula o “Momo Gargantua”, de François Rabelais.

Menu do banquete

Boa sopa de sapo terão todos / E também muita lesma com fartura / De minhocas um bom molho se terá, / E mil moscas afogadas em gordura!

De ensopados camundongos abundância, / Boas tortas de barata catinguenta, / Das cascudas, descascadas, em conserva, / E muquecas da Bahia com pimenta!

De pulgas um piche será presente / Assim como também piolho frito; / E um gato escaldado mostrará / Como é bom com batata e mangarito!

Percevejo recheado com banana. / Pernilongo simplesmente ferventado, / Marimbondo temperado com azeite, / Carrapato levemente sapecado.

Jatutá do visgoso com farinha, / Perereca da graúda em boa banha, / Mucuim com forçura de galinha / Lagartixa misturada com aranha!

Baiacu, garoupa, badejeto, bagre, / Amborê, vinagre, timbucu, pescada, / Cação, robalo, parati, tainha, / Acará, sardinhas, caçonete, espada!

Variedade completa (à escolha), para todos os gostos, todos os paladares!

Reunamo-nos todos e demos guerra de extermínio a essa Petisqueira. Mostremos enfim que bem soubemos aproveitar o Carnaval de 1884.

Disse. Zebedeu de Marimbé Cará e Pororoca Assu.