Molecagens

Temos governador. Não de fato, de firme intenção: o senador Osmar Dias declarou o que a maioria dos curitibanos comenta nas catacumbas dos condomínios: não existe mais Segurança no Paraná. E sim Insegurança Pública. Em seguida, “deixou todos os seus objetos de valor em casa, principalmente a carteira”, e foi para o Senado trabalhar.

Se eleito, Osmar Dias não vai nos decepcionar neste quesito. Calejado nas lidas do campo, onde a palavra é tratada no fio do bigode, nosso senador tem fama de “truculento” com subordinados de corpo mole. O avesso do ex-governador José Richa que, segundo o jornalista Luiz Geraldo Mazza, era um adorável “turcolento”.

Sem querer ofender, Osmar é um “brucutu” semelhante ao governador Roberto Requião, com uma pequena diferença: não se considera um humorista. Nem mesmo um ator, o histriônico que no palanque faz pose de John Wayne para impressionar personagens do Dalton Trevisan.

Com o bloco na rua, digo, com a campanha na rua, Osmar Dias acha que sozinho o Estado não tem como dar conta do problema. Defende a polícia comunitária, a integração entre a população e os serviços de segurança pública. E podemos acrescentar: outra maneira de se combater a criminalidade de maneira efetiva não é só desarmar os bandidos, é desarmar os espíritos. Especialmente o espírito “nervioso” do secretário de Segurança. Na entrevista coletiva que deu para apresentar os “moleques” da chacina da Vila Icaraí, o secretário Luiz Fernando Delazari chamou de “abutres” os deputados estaduais que querem convocá-lo para explicar a Insegurança Pública. E disse que, ser for convocado, vai: “Sou secretário da Segurança Pública, não da privada!”.

Se os moradores, o governo do Estado e a prefeitura fossem capazes de dividir uma cerveja num boteco da Vila Icaraí já seria um bom começo para a tese do senador Osmar Dias.
A Prefeitura de Curitiba, principalmente, com os olhos atentos do Diretran, seria o anjo da guarda da cidade contra o crime.

É impressionante a ubiquidade dos agentes da multa, mais impressionantes ainda as histórias para contar. Desses casos de onipresença aconteceu com o fotógrafo Orlando Kissner. Depois de cumprir uma pauta no bairro, Orlando passou com o filho pequeno pelo Alto da Glória, onde numa esquina o camelô oferecia bichos de pelúcia para vender. Como não
podia deixar de ser, o piá se encantou com o maior deles, um urso quase do tamanho do “polaco”.

O menino abriu o sorriso, o pai abriu a carteira, o difícil foi conseguir enfiar o animal de pelúcia no carro não tão grande. Depois de tentativas laterais e traseiras, a única forma de acomodar o urso foi pelo teto solar.

A fera caiu feita uma luva no banco dianteiro. Com o filho bem amarrado à cadeirinha do banco traseiro, o motorista parecia o próprio Orlando Orffei (aquele do circo) levando o urso para o picadeiro. O grande fotógrafo (inclusive na altura) atravessou a cidade com o urso bem faceiro na primeira classe, ombro a ombro com o condutor.

Numa das esquinas, até tentaram dar pipoca ao animal. E passaram-se os dias. O urso não mordeu ninguém da família, o único susto com a aquisição foi quando Kissner recebeu em casa uma notificação do Diretran: “Multa por transporte ilegal de animais, como um cachorro rottweiller”.

Fotógrafo da Prefeitura, e com acesso privilegiado ao gabinete do chefe, o motorista reconstituiu a “infração” e foi mostrar o retrato do urso ao então prefeito Cassio Taniguchi, que se divertiu muito com a trapalhada.

Sem indulto, Orlando Orffei Kissner, mesmo recorrendo aos canais competentes, foi obrigado a contribuir com a caixinha do leão municipal. Os macacos do Passeio Público até hoje rolam de rir quando veem um urso de pelúcia. O senador Osmar Dias tem razão. Todos podem contribuir para a segurança pública. Inclusive o Diretran, o Olho da Rua, esta ubíqua entidade que enxerga coisas que até Deus duvida.