O jornalista Luiz Manfredini tem um livro que precisa ser revisitado. Assim como eu estou revisitando esta minha crônica escrita em dezembro de 2010. Para quem analisa os dias atuais, em 1989 o curitibano de quatro costados contou a trajetória de cinco moças de Minas que hoje poderiam estar no lugar de Dilma Rousseff.

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 “As moças de Minas” (Editora Alfa-Omega, 132 páginas) é a história de cinco moças dos anos 60 onde, vista de hoje, salta aos olhos que está faltando uma guerrilheira Wanda. As outras são Gilse, Loreta, Rosário, Laudelina e Sissi. Cinco mulheres ligadas à AP que, na escuridão da ditadura, lutaram pela transformação social e derrubada do regime militar.

Do livro de Manfredini, um pequeno trecho do que as moças de Minas sentiram na pele: “Tirem a roupa! As duas aguardaram um instante, o militar repetiu a ordem e Laudelina despiu-se calada e fatalista. Chegou a minha hora de apanhar, foi só o que pensou. Rosário foi posta na cozinha e, na sala, o sargento Léo colocou Laudelina contra a parede e, sem dizer uma palavra sequer, apagou um cigarro em sua barriga. A dor explodiu fervente, pelas entranhas. Mas não houve tempo para sofrê-la porque o sargento, em seguida, vibrou-lhe um golpe no estômago e, logo após, chutou-lhe um dos tornozelos. Laudelina reagia erguendo o pé machucado, o militar chutava-lhe o outro. Ela se desiquilibrava e caía”.

O destino das moças de Minas.

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Rosário afastou-se da organização logo após deixar a prisão e retomou o curso de história. No ano seguinte, transferiu-se para São Paulo onde foi professora na PUC.

Laudelina se casou em 1970, passou breve temporada no Rio de Janeiro e foi morar com o marido na Bahia a serviço. No mesmo ano desligou-se da organização e passou a exercer o serviço social.

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Sissi mudou-se para o Paraná. Presa em em Porto Alegre, completou sua pena em Belo Horizonte até abril de 1973. Retomou o curso de Sociologia na UFMG em 1974 e, formada, passou a lecionar Economia e Sociologia do Trabalho.

Gilse permaneceu em São Paulo até fins de 1976. Incorporada ao PCdoB, foi deslocada para o Ceará sob nova identidade. Abandonou a clandestinidade em 1979, com a anistia.

Loreta, também cooptada pelo PCdoB, trabalhou na organização em Recife até meados de 1971. Voltou a São Paulo para tratamento de saúde. Exilada na Argentina e na Suécia, retornou ao Brasil em 1980.

Wanda, educada no Colégio Sion, iniciou sua militância com o golpe de 1964. Integrou organizações que defendiam a luta armada, passou quase três anos presa para depois reconstruir sua vida no Rio Grande do Sul, até participar da equipe que formulou o plano de governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

Dilma Rousseff não entrou no livro de Luiz Manfredini. Wanda entrou para história por uma rampa, aquela do Palácio do Planalto.