Mistérios de Curitiba

Os onze positivistas de Curitiba (são treze no mundo inteiro, segundo Dalton Trevisan) acabam de encerrar o congresso anual no Instituto Neo Pitagórico, como sempre realizado no Templo das Musas, palácio positivista erigido por Dario Vellozo em 1909, na Vila Izabel. É nessa Curitiba que Dalton Trevisan viaja: “Não a do Museu Paranaense com o esqueleto do Pithecanthropus erectus, mas do Templo das Musas, com os versos dourados de Pitágoras, desde o Sócrates II até os Sócrates III, IV e V”. 

A conferência desse ano teve por tema “Mistérios de Curitiba”, uma revisão atualizada da obra de Dalton Trevisan, trazendo à luz da filosofia e da ciência certas coisas que “só Curitiba enruste”, como canta Paulinho Vítola. “Coisas estranhas e inexplicáveis”, asseguram os onze positivistas, com a concordância dos outros dois estrangeiros que também estavam presentes: um búlgaro e outro egípcio.

Um desses mistérios é um fenômeno que vem atormentando as pessoas que voltam do litoral bronzeadas, mas por incrível que pareça a pele volta à cor natural (tom banana descascada) assim que cruzam o viaduto do Capanema, a caminho de casa. Nenhum dermatologista conseguiu explicar o fenômeno, pois normalmente a cor de tacho deveria permanecer por uma ou duas semanas. Até mais, caso o bronzeador seja o “Rayito de Sol”, contrabandeado do Paraguai. Na análise do Clube dos Onze, esse mistério vem desde os tempos do colunista social Dino Almeida, quando as madames levavam suas pérolas de Curitiba para tomar banho de mar: “Levo minhas pérolas para visitar seus parentes moluscos ainda em crescimento”, diziam elas, bebericando champanhe com ostras, enquanto pegavam um bronzeado para exibir o “tomara-que-caia” no baile da Garota Caiobá.

Outro fenômeno de deixa os cientistas aparvalhados é quanto à questão do clima curitibano: “Onde está ligada a tomada do ar condicionado central que deixa a temperatura da cidade assim confortavelmente refrigerada?” Essa é a pergunta que um positivista egípcio fez na abertura da conferência, ao ser apresentado aos demais colegas de simpósio.“Somos uma das raras cidades no mundo com o verão refrigerado”, respondeu um dos positivistas nativos.

Para encerrar a conferência positivista, o Clube dos Onze (com a assinatura dos dois estrangeiros) enviou às autoridades uma carta pedindo a restauração dos bailes de outrora, principalmente dos Chás de Engenharia (“onde as donzelas aprendiam de tudo, menos tomar chá”, conforme Dalton Trevisan), “como formas de assegurar divertimento seguro e sadio para essa juventude enclausurada em arapucas da vida noturna”.