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Cem Gramas e Meio Quilo são dois repórteres policiais de peso da imprensa paranaense. Maior do que eles só mesmo o repórter Ali Chaim, que ganhava deles na balança da farmácia Colombo. Isso quando a diuturna farmácia na esquina da Muricy com XV de Novembro ainda se chamava Colombo. Até se aposentarem, era naquela esquina que os dois faziam plantão, por um motivo elementar, meu caro Watson: entre mortos e feridos, nas priscas eras de Curitiba todos se cruzavam na esquina da Colombo.

Hoje batendo ponto na Boca Maldita, a dupla de peso tinha suas próprias metodologias de investigações criminais. Por exemplo. Quando o repórter Algaci Túlio aparecia na esquina da Colombo avisando que um motorista de táxi teria sido assassinado na “Zona do Parolin” – a zona de prostituição daqueles tempos -, imediatamente os dois bravos “carrapichos” iam atrás do presunto na “Zona do Quatro Bicos”, o lupanar da cafetina Maria Japonesa. “Carrapicho” era a gíria referente aos repórteres policiais e, quem era do ramo, já sabia que o “Gaci” Túlio não entregava o ouro para a concorrência.

No folclore da classe jornalística, ninguém começava a trabalhar sem ganhar um trote. Do boy ao filho do proprietário, todos eram encarregados de buscar a “calandra” em algum lugar. “Calandra”, como todos sabiam – menos os novatos -, era alguma parte da rotativa com mais de uma tonelada. Ou então alguma coisa inexistente.  

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Certa vez os donos do jornal nomearam um “bunda mole” (era como os carrapichos tratavam os superiores) qualquer para chefiar a redação.

– Chefia – gritou Meio Quilo com a mão no telefone -, mataram o guarda!

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– Onde, quando, como e por quê? – perguntou o “bunda mole”, repetindo o que aprendeu na faculdade.

– Ali no bar da esquina! – respondeu o Cem Gramas.

– Quero uma foto para a primeira página!

Minutos depois, Cem Gramas e Meio Quilo estavam de volta com o autor do crime:

– Taqui chefia, aquela que matou o guarda!

E botaram na mesa do “bunda mole” uma garrafa da pinga Tatuzinho.

Como se sabe, “aquela que matou o guarda” era uma mulher que trabalhava para D. João VI e se chamava Canjebrina. Também conhecida por cachaça. Ela teria matado um dos principais guardas da corte do Rei. O fato não foi provado, mas a “canjebrina” sempre levou a culpa.

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Por serem dois dos repórteres de maior peso, mesmo aposentados Cem Gramas e Meio Quilo foram pautados para resolver o mais recente mistério do Centro Cívico: em três meses de novo governo, o presidente da Assembleia Legislativa sumiu com o governador. Ninguém sabe, ninguém viu, quando Valdir Rossoni aparece na Boca Maldita é saudado como se fosse o governador eleito.

– Onde está o Beto Richa? – pergunta Cem Gramas.

– É “obviamente ululante”, meu caro: o Rossoni escondeu! – responde Meio Quilo.