Ministra do caldo de peixe

Para tentar entender as causas de tanto apetite por impostos, a ministra Ideli Salvatti deveria ler o livro “A invenção do restaurante”, de Rebbeca Spancy. Um século antes de o restaurante ser um lugar como hoje o conhecemos, “restaurant” era um caldo para se restaurar as forças. Nascido na França, o restaurante surgiu de uma xícara de canja de galinha, para quem tinha com que pagar. Ou da sopa de pedras, para os miseráveis de Victor Hugo.

Por não existir almoço de graça, o inventor do restaurante não podia deixar de ser uma mistura de mestre cuca com economista. Mathurin Roze de Chantoiseau, o inventor do restaurante, era um empreendedor metido a reformar o mundo que, entre outros projetos ambiciosos, inventou a primeira lista telefônica sem telefone. O “Almanaque Geral de Endereços, Personalidades e Domicílios Fixos de Paris” foi um sucesso. Desastre foi a sua proposta para restaurar a economia da França. Os financistas do rei não o levaram a sério, mas se o projeto de Mathurin Roze para reduzir a dívida interna francesa tivesse sido tão bem-sucedido quanto seu endereço para vender caldo de galinha, ele poderia ter evitado a Revolução francesa. Em vez disso, inventou o restaurante.

Com a mesma espontaneidade da ministra Ideli Salvatti, em 1776 não eram poucos os milagreiros a sugerir que o déficit público francês deveria ser pago às custas da fome do contribuinte. Com os credores batendo na porta do rei, conservadores e radicais também incluíam a dieta e a arte culinária em suas incontáveis sugestões para pagar a conta do governo.

Um desses iluminados chegou a apropriar-se da idéia medieval de abstinência religiosa para sugerir que, se cada um dos franceses jejuasse um dia por mês e doasse o dinheiro poupado naquele dia ao Estado, a dívida interna rapidamente estaria administrada.

Eis uma ideia para Ideli Salvatti, a ex-ministra da Pesca. Outra sugestão é fazer como Roze de Chantoiseau e, no Mercado Público de Florianópolis, abrir um “restaurant” especializado em caldo de peixe.