Os discursos dos candidatos a prefeito continuam estreitos. Segurança, transporte, saúde e educação, os males da propaganda política são. Sempre os mesmos, não são sinônimos de virtudes, atributos, dotes ou qualidades. São obrigações da administração pública. São direitos, estão na constituição.

continua após a publicidade

Quando vivo, em 2008, o escritor Wilson Bueno foi anticandidato a prefeito de Curitiba pelo Partido da Utopia (PDU). O plano de governo do utopista estava embasado numa espécie de “carta-testamento” do arquiteto Oscar Niemeyer acerca do Rio de Janeiro, sobre a qual Bueno escreveu o seguinte: “As propostas de Niemeyer chegam a soar absurdas não fossem deliciosamente sonhadoras. Utópicas como as reiteradas utopias de nosso ainda mais utópico Partido da Utopia (PDU). E não se esqueçam também que o anticandidato a prefeito que vos fala, bem como seu vice (Dalton Trevisan), são devotados, claro, mais ao sonho do que à razão”.

O partido de Wilson Bueno não só era absurdamente otimista, como também via a cidade do jeito que o impossível gostaria que ela fosse. Era um partido sem número e endereço, com sede própria na imaginação. Na mesma rua da imaginação onde todos os outros partidos deveriam estar estabelecidos. 

Na estreiteza do proselitismo político, os postulantes oficiais tratam nossos direitos como se fossem prerrogativas, concessões e vantagens que só eles têm o privilégio de conceder. Devia constar na propaganda do horário político gratuito:

continua após a publicidade

– O TRE adverte: segurança, transporte, saúde, emprego educação, não é mais do que obrigação. É o que retorna dos tributos. 

Ao lado de Oscar Niemeyer e Thomas More, os correligionários de Wilson Bueno (Dalton Trevisan vice) tinham também como um dos seus patronos o anarquista italiano Giovanni Rossi. Utopista militante, o criador da Colônia Cecília aqui nos Campos Gerais escreveu no início do século passado um dos tópicos de fundação do Partido da Utopia (PDU).

continua após a publicidade

“Aos vinte anos começar pela utopia, aos trinta passar à experimentação e, aos quarenta, voltar novamente à utopia: o percurso dessa evolução poderia parecer a muitos o caminho em círculo de um espírito desiludido, mas indomável. Ao contrário, ele significa o andamento em espiral de uma consciência que se desenvolve em torno do próprio eixo e ganha o alto. Trata-se de uma utopia. Pessoas sisudas riem dela, ou melhor, nem têm interesse em conhecê-la.”

A candidatura de Wilson Bueno a prefeito (Dalton Trevisan vice) tinha por princípio as próprias palavras do saudoso escritor, e nós assinamos embaixo:

– É bem mais que declaração de amor a uma cidade, não abre mão do sonho, mesmo que inviável, mesmo que não exequível, mesmo que impossível de acontecer. E não seria dessa natureza a felicidade sobre a Terra?