Por ter nascido numa cidade de colonização italiana, minha memória de criança não registra com destaque a figura do Papai Noel, este senhor que parece ter nascido num shopping. Naquela época nossas noites de Natal eram mal dormidas porque aguardávamos os presentes do Menino Jesus.
Justamente por ter sido o quintal de madre Paulina, a primeira santa do Brasil (apesar de ter nascido na Itália), toda a população de Nova Trento cabe dentro de suas tantas igrejas. Da igreja de Santa Ágata (ao lado de minha casa), a primeira capela da colônia trentina de 1875, ao gigante santuário de Santa Paulina, cada tijolo foi assentado com o suor e a fé de seus habitantes. Assim católicos, até gostamos de contar que toda criança neotrentina, ao nascer, é jogada contra a parede: se cair será pedreiro, se grudar será padre. Ou vice-versa.
Pedreiro, padre ou freira, nosso Natal era dedicado ao Menino Jesus. Conhecíamos Papai Noel dos cartões natalinos enviados pelos parentes da cidade grande, ou então da revista O Cruzeiro que chegava regularmente com um mês de atraso.
Relembro desta quase esquecida tradição de Natal porque, nestes quase 10 anos de cronista, uma das colunas mais propagadas na internet é a minha tradução de uma enquete do “Corriere Della Sera”, quando o jornal italiano recolheu mensagens de crianças ao Menino Jesus. As frases “dei bambini” são tão criativas que as repasso aos amigos desta Tribuna com os meus votos de Feliz Natal.
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“Querido Jesus, em vez de você fazer as pessoas morrerem e aí criar novas pessoas, por que você não fica com as que já tem?” (Marcello).
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“Querido Jesus, a girafa você queria assim mesmo ou foi um acidente?”
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“Querido Menino Jesus, todos os meus colegas da escola escrevem para o Papai Noel, mas eu não confio naquele lá. Prefiro você” (Sara).
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“Querido Menino Jesus, obrigado pelo irmãozinho. Mas na verdade eu tinha rezado pra ganhar um cachorro” (Gianluca).
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“Querido Jesus, por que você não está inventando nenhum animal novo nos últimos tempos? A gente vê sempre os mesmos” (Laura).
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“Querido Jesus, por favor ponha um pouco mais de férias entre o Natal e a Páscoa. No meio, agora está sem nada” (Marco).
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“Querido Jesus, o padre Mário é seu amigo ou você conhece ele só do trabalho?” (Antonio).
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“Querido Menino Jesus, por gentileza, mande-me um cachorrinho. Eu nunca pedi nada antes, pode conferir” (Bruno).
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“Querido Jesus, talvez Caim e Abel não se matassem tanto se tivessem um quarto pra cada um. Com o meu irmão funciona” (Lorenzo).
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“Querido Jesus, no Carnaval eu vou me fantasiar de diabo, você tem alguma coisa contra?” (Michela).
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“Querido Jesus, eu gosto muito do Padre-Nosso. Você escreveu tudo de uma só vez, ou você teve que ficar apagando? Qualquer coisa que eu escrevo eu tenho que refazer um monte de vezes” (Franco).
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“Querido Jesus, você é invisível mesmo ou é só um truque?” (Giovanni).
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“Querido Jesus, se não tivesse acontecido a extinção dos dinossauros, não ia ter lugar para nós, você fez muito bem” (Maurizio).
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“Querido Jesus, na escola nós estudamos que Thomas Edison inventou a luz, mas no catecismo dizem que foi você. Pra mim, ele roubou a sua ideia” (Daria).