O mistério da menina abandonada na Lapa em 1971 pode estar perto do fim. Nos rastros das coincidências, Elizangela A. comparou a foto de capa da revista O Cruzeiro com os retratos de família e tratou de conhecer Luci, a tia desaparecida. O exame de DNA não foi conclusivo, mas tudo indica uma história espantosa.

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Luci (ou Mônica) nasceu no dia 21 de dezembro de 1960, foi batizada em 15 de março de 1961 e era filha de Adolfo A. e Maria José C. A. Tinha três irmãos: Aparecida, Sebastião e Ivone, a mãe de Elizangela que saiu em busca da Menina M.

Conforme relata Elizangela, “na época, minha família era muito bem de vida no interior da Lapa. Plantavam de tudo, sem haver precisão de ir à cidade. Meu avô Adolfo ia à cidade somente uma vez por ano para comprar tecidos e fazer alguma troca de mercadorias. Minha avó ensinava seus filhos a se comportar na mesa, escovar os dentes, pentear os cabelos, etc., coisas que não eram muito comuns na época”.

Sendo uma família típica de agricultores do interior do Paraná, com um destino traçado pelo isolamento e trabalho, não se sabe em que circunstância Maria José C. A. se apaixonou perdidamente por Albino, o suspeito forasteiro.

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O amor bandido de Maria José foi muito além das fronteiras da Lapa. Quando os vizinhos começaram a murmurar que a recém-nascida Luci não seria filha de Adolfo, Maria José fugiu com o suposto bandido, levando consigo a filha daquela paixão clandestina.

Foi uma vergonha para Adolfo, confessa Elizangela: “Passou-se muito tempo e meu avô ainda morria de vergonha de ter sido abandonado por sua esposa, com três filhos para criar. Proibia lembrar a desgraça dentro de casa. Mamãe cresceu e o sonho de encontrar a mãe e a irmã nunca morreu. Eu cresci e, assim, resolvi tentar reencontrá-las via internet. Procurei na Previdência Social, se minha avó estivesse viva seria aposentada. Fiz varredura nos cartórios, em busca de uma certidão de sua morte. Não encontrei nada. Numa comunidade no orkut de pessoas desaparecidas vi o caso da Mônica, a Menina M. Comparando datas, lendo os jornais da época, percebi então que os fatos se encaixavam. Foi quando liguei para o convento São Vicente de Paula, na Lapa. Levei as fotos de família, contei minha história. A freira chorou, concordou comigo, e me ajudou a fazer um exame de DNA. Porém minha mãe não viu o resultado no papel. Só disseram que tinha dado negativo e mais nada. Mas temos nossas dúvidas”.

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Elizangela e a mãe Ivone se encontraram com a suposta Luci em Blumenau, onde hoje mora com uma filha e separada do marido: “A semelhança, as histórias, o tempo, os detalhes, são muito iguais. Mônica (Luci) lembra que tinha irmãos, que a mãe reunia os filhos embaixo de uma árvore e que tinha um poço. Assim minha mãe descreveu também. Foi pedido que as duas fizessem um desenho do que se lembravam: o desenho saiu igual”.

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Das histórias que convergem, resta o pavoroso mistério. Quem abandonou a menina na Lapa sabia que a família era de lá. Quando encontrada na Lapa, com roupa comprada no Rio de Janeiro, a menina traumatizada dizia apenas: “Ele quebrou o rádio, a cadeira e fez um buraco no chão”. Por que o buraco no chão? Depois da briga dos pais, teria a menina M. presenciado o assassinato da própria mãe?