Memórias de bordel

No programa de Jô Soares de quinta-feira passada, o ator Ary Fontoura contou uma passagem de sua vida que poucos artistas teriam a sinceridade e o talento para revelar.

Curitibano duas vezes, ou em dobro (afinal, quem mais curitibano que o personagem Dr. Pomposo), Ary Fontoura retirou do fundo do baú sua passagem pelas casas de prostituições do Paraná, quando era cantor no bordel da famosa Casa da Otília. E não era só uma casa, segundo Fontoura. Era uma rede de lupanares, passando por Londrina, onde nos 1950 “três quartos da cidade era toda ela de prostíbulos”. 

A revelação da passagem de Ary pela Casa da Otília começou com uma pergunta aparentemente rotineira: “Qual foi o lugar mais inusitado que você já trabalhou?”.

A resposta de Ary alvoroçou a plateia: “Quando eu morava em Curitiba, não sabia se queria ser um cantor ou um ator. Naquela dúvida, decidi começar cantando. Mas cantando por onde? Não tinha onde cantar. A cidade tinha 250 mil habitantes. Eu cantava em restaurantes, mas lá eu ouvia mais barulho de talheres do que propriamente a música. Eu precisava achar um lugar melhor. Um dia estava cantando num restaurante, quando uma senhora muito simpática sentada numa mesa me mandou um recado para que depois que eu terminasse de cantar fosse conversar com ela. Fui lá. Era a dona Otília, uma senhora muito distinta que era dona de uma cadeia de bordéis no estado do Paraná”.

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Numa outra saborosa revelação, Jô Soares contou que conheceu Ary Fontoura num teatrinho de praça:

 Jô Soares: Era um teatro numa praça, eu ia toda a semana para lá para fazer um programa de televisão, ainda não havia a rede. Um dia fui passear na praça e vi um teatrinho com a peça “O amado tarado”.

Ary Fontoura: Era o Teatro de Bolso, que eu fundei em Curitiba, e essa peça era de um amigo meu, o Maurício Távora, de saudosa memória.

Jô Soares: Você era o amado tarado?

Ary Fontoura: Não, eu fazia um cabo da polícia. Era uma peça muito interessante. Era atemporal, acho que até hoje podia ser feita. O amado tinha um problema: ele gostava de esperar as normalistas em frente ao instituto de educação… pelado! E tinha outro problema também: se aplaudissem, ele mostrava tudo. Então era um aplauso geral.

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Atualmente escrevendo um livro sobre a prostituição em Curitiba (Maria Batalhão – Memórias Póstumas de uma Senhora Cafetina), eu não tinha a informação de que a Casa da Otília era dona de uma cadeia de bordéis, com a importante filial em Londrina. Dos entrevistados para o meu livro, até agora ninguém sabia disso.  

 Se algum leitor se dispuser a confirmar a informação de Ary Fontoura, agradeço mais detalhes sobre a Casa da Otília e demais lupanares: dante@oestadodoparana.com.br