Dentro do pacote de mimos ofertado por amigos e admiradores, José Wille perguntou ao parceiro de microfone o que ele achava de suas caricaturas ofertadas pelos chargistas do Paraná. Mazza fez uma breve pausa – como se estivesse dando um momento para a modéstia – e observou que os caricaturistas foram um tanto quanto condescendentes. Deveriam ser mais críticos com ele, assim como fazem no dia a dia do jornal.

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Em troca da amabilidade, o homenageado devolveu os confetes ao elogiar Ademir Paixão (o grande caricaturista da história do Paraná e um dos expoentes do Brasil), Solda, Tiago Recchia e Benett. Segundo Mazza, alguns exemplos do que a imprensa de Curitiba sempre teve de melhor, além de ter sido berço de João Pedro, o Mulato, o primeiro caricaturista do Brasil com suas aquarelas de 1806.

Seja feita a sua vontade e não sejamos, portanto, condescendentes com o jornalista que nunca fez do beneplácito uma alavanca para arrancar sorrisos. Sem condescendências, digamos que Luiz Geraldo Mazza não mereça tantas loas.

Nascido em Paranaguá, onde se diz que o parnanguara da cepa não foge à luta – Dá-lhe que eu te dô-lhe! – o Lulu do rio Itiberê deveria revidar com mais frequência e ênfase as tantas agressões que deixam a autoestima da cidade mais no raso que canoa na maré baixa.

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Desde quando subiu a serra para falar grosso na cidade grande, desde sempre foi o mais contundente crítico das transformações urbanas de Curitiba e, ao lado do jornalista Cândido Gomes Chagas, ainda insiste em denunciar que a Sorbonne do Juvevê se transformou no Cimetière du Père Lachaise a abrigar os mausoléus das viúvas de Jaime Lerner. Inimigo público número um (o número dois é o Candinho) do marquetingue ecológico da pretensa capital ecológica de primeiro mundo -uma das três melhores do mundo para se viver -, por incrível que pareça esse provinciano jamais fez o circuito Elizabeth Arden. “Ô seja” – como se diz em Paranaguá -, “não conhece a Oropa, França e Bahia”. Afora a América Latina, as excursões desse jornalista se resumem às barrancas dos rios do Paraná, mas mesmo com tão pouca quilometragem internacional já foi convocado por um governo da ocasião para elaborar um projeto turístico para o estado.

O jornalista, radialista e pescador Sérgio Porto, ao fazer o “Autorretrato do artista quando não jovem”, confessou que são três as suas qualidades paradoxais: boêmio que adora ficar em casa, irreverente que revê o que escreve e humorista a sério.

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O Lulu é o próprio Lalau, o Stanislau Ponte Preta: boêmio só até a novela das oito ou conforme o horário estipulado por dona Luci, irreverente que revê o que escreve só para rir duas vezes e, mesmo não se levando a sério, é um humorista que os poderosos levam a sério.

Bem ao contrário de Sérgio Porto, um dos pontos vulneráveis de Luiz Geraldo Mazza é a sua capacidade para se deixar arrebatar por política e, ocasionalmente, por certos políticos de ocasião. Justamente o aconteceu em 1985, quando impôs com sua verve o noviço Roberto Requião como candidato a prefeito de Curitiba. Dito e feito, muito bem feito: esse é um dos arrependimentos confessos do jornalista que não tem medo de careta. Nem do boi da cara preta.

Sem condescendências, porque então nos reunimos para celebrar o coxa-branca que não merece tantas loas?
Inveja.

Pura inveja – como está escrito no convite para a festa na Sociedade Garibaldi, nesta quinta-feira – do incomparável Luiz Geraldo Mazza que está fazendo 80 anos sem arredar pé da militância jornalística diária, numa carreira que já dura seis décadas e que se impõe como uma das trajetórias mais notáveis da nossa imprensa.