No dia 26 de janeiro de 1986, o jornalista Aramis Millarch registrava em sua coluna sua sentida saudade da cantora e compositora Maysa na cena musical brasileira: “Faz 9 anos e parece que foi ontem. Aquela manhã de 1.º de dezembro de 1976. Maysa foi ao estúdio da Rádio Ouro Verde, onde gravava os depoimentos para o programa Domingo sem Futebol. Maysa estava tranquila, serena, sem pressa. Em branca paz, Maysa estava mais uma vez em Curitiba. Sem compromissos profissionais, apenas descansando, na casa de sua grande amiga, Rose Rogoski – uma pessoa admirável, que conhece a arte de fazer amigos. Maysa diria, aliás, a respeito de Rose:
– Sabe, eu dificilmente consigo me relacionar com mulheres. Fazer boas amigas. Mas com Rose é diferente. Realmente, ela me faz sentir bem.

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Maysa, Dolores Duran, Elis, Silvinha Telles. Quatro mulheres que, mais do que grandes cantoras, foram assumidamente pessoas dramáticas. A morte de Elis, também em janeiro, vítima de drogas, há quatro anos passados. E Silvinha Telles – que tal como Maysa – morreu num acidente de automóvel, há 20 anos passados, quando se dirigia para Maricá, interior do Estado do Rio. Mortes dramáticas, que ceifaram da nossa música vozes únicas. Intérpretes que, passado o tempo, se revelam cada vez mais importantes. Em 1968, Maysa dizia, numa entrevista, ter a impressão de que não morreria, a sensação de que seu corpo não fora feito para a morte.No início da noite de 22 de janeiro de 1977, um sábado, aos 40 anos e tão só quanto como quase sempre viveu, ela encontrava a morte, a 100 quilômetros por hora, numa das pistas da ponte Rio-Niterói”.

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Depois de 28 anos que o falecido Aramis Millarch relembrou a ausência da compositora, recebo de Rose Rogoski uma foto que só agora saiu do álbum de retratos da Rose Polaca – assim chamada pelos amigos mais chegados. Junto ao envelope, uma advertência: “A foto foi tirada em novembro de 76. Estávamos hospedadas na Fazenda de Ibrahim Abudi Neto, em Francisco Alves (PR). Ela estava ótima. Adorou a viagem. Em janeiro ela se foi. Valeu conhecê-la e saber da sua inteligência e sensibilidade. Saiba que esse retrato, reprodução de uma foto Polaroid, é exclusivo. Polaca”
Na biografia “Maysa – Só numa multidão de amores”, do escritor Lira Neto, na página 329 o autor reconta aquela última visita de Maysa a Curitiba: “Maysa estava buscando algo que ela própria parecia não saber ao certo o que era. Como fizera anos antes com Carlos Alberto pelo interior de Minas Gerais, redescobrira o prazer de entrar no carro, colocar um cassete no toca-fitas e sair estrada afora. Na manhã de 10 de dezembro de 1976 estava em Curitiba, descansando na casa de uma amiga, Rose Rogoski, depois de mais um trecho desse “roadmovie” particular, quando o jornalista Aramis Millarch pediu-lhe para que desse um longo depoimento ao microfone de uma emissora de rádio local, a Ouro Verde. Como já conhecia o trabalho de Millarch, um dedicado pesquisador de música brasileira, Maysa aceitou o convite. E deu sua última entrevista.”

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Quem seria a polaca Roseli Rogoski, uma das melhores amigas de Maysa? Na edição de amanhã vamos contar um pouco da vida desta bela mulher que privava da intimidade de uma das maiores intérpretes da MPB.

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