O primeiro escalão dos governos de Dilma Rousseff e Beto Richa está praticamente escolhido. Lá e cá, poucas surpresas. No território Federal, até agora dois paranaenses. Gilberto Carvalho e Paulo Bernardo, o homem dos sete instrumentos. No território estadual, a indicação do ex-prefeito Cassio Taniguchi surpreendeu até as cartomantes.

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Outro que está deixando as cartomantes numa saia justa é Osmar Dias. Segundo as cartas que estavam na mesa, o bravo (que muitos dizem brabo) senador estaria com um pé no Palácio Iguaçu, outro no Ministério da Agricultura.

Nem uma coisa nem outra.

Por enquanto, Osmar Dias continua lendo jornais na sala de espera do ministro Carlos Lupi.

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Tem história, esse ministro do Trabalho. Ricardo Amaral, no seu livro de memórias, lembra que uma vez ofereceu na boate Hippopotamus um jantar para Leonel Brizola. O então governador do Rio levou um “carismático grupo”, do qual fazia parte um senhor muito simpático que Amaral conhecia, mas não estava localizando quem era: “Descobri tratar-se do meu vizinho jornaleiro da esquina, onde invariavelmente eu comprava jornal de madrugada, diretamente de suas mãos. Seu nome? Carlos Lupi, hoje presidente do PDT e ministro do Trabalho”.

Sem insinuar que Osmar Dias ainda acabe entregando jornais para Carlos Lupi, consolamos a todos os excluídos com o Evangelho de Mateus, capítulo 22, versículo 14, onde disse Jesus aos príncipes dos sacerdotes e aos fariseus: “Muitos são os chamados, poucos os escolhidos”.

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Para William Shakespeare, “os miseráveis não têm outro remédio a não ser a esperança”. Desesperar, jamais! Aos que ainda não foram escolhidos, temos como exemplo de conduta um personagem do escritor Lima Barreto que vendeu sua alma ao diabo.

“A anedota que lhe vou contar -escreveu Lima Barreto – tem alguma coisa de fantástico e parecia que, como homem de meu tempo, eu não devia dar-lhe crédito algum. Entra nela o diabo e toda a gente de certo desenvolvimento mental está quase sempre disposta a acreditar em Deus, mas raramente no diabo.

Não sei se acredito no diabo, porque não tenho as minhas crenças muito firmes”.

Lima Barreto conta de um amigo que estava muito aborrecido e desgostoso da vida. Sentindo-se o último dos homens, o camarada começou a pensar no que havia feito de errado na vida para ser assim excluído:

“Queria experimentar se as belezas que o tempo e o sofrimento dos homens acumularam sobre a terra, despertavam em mim a emoção necessária para a existência, o sabor de viver”.

Dinheiro, como arranjar?

O camarada imaginou meios e modos – corrupção, furto, estelionato – e acabou pensando no diabo: “Se ele quisesse comprar-me a alma? Havia tanta história popular que contava pactos com ele que eu, homem cético e ultramoderno, apelei para o diabo, e sinceramente!

O diabo, – conta Lima Barreto -era um cavalheiro como qualquer, sem barbichas, sem nenhum atributo diabólico. Entrou como um velho conhecido. Sem cerimônia o capeta sentou-se e foi perguntando:
– O que querias de mim?
– Vender-te minha alma!
E o diálogo continuou assim:
Diabo – Quanto queres por ela?
Eu – Quinhentos contos.
Diabo – Não queres pouco!
Eu – Achas caro?
Diabo – Certamente!
Eu – Aceito mesmo a coisa por trezentos.
Diabo – Ora, ora!
Eu – Então, quanto dás?
Diabo – Filho, não te faço preço. Hoje, recebo tanta alma de graça que não me vale a pena comprá-las.
Eu – Então, não dás nada?
Diabo – Homem! Para falar-te com franqueza, simpatizo muito contigo, por isso vou dar-te alguma coisa.
Eu – Quanto?
Diabo – Queres vinte mil-réis?
E logo perguntei ao meu amigo:
– Aceitaste?
O meu amigo esteve um instante suspenso, afinal respondeu:
– Eu… Eu aceitei!