Quem me ensinou a lidar com ostras, mariscos, camarões e demais frutos do mar foi o Anésio, o velho marinheiro.
– Você sabe abrir esses moluscos? – ele me perguntou.
– Só depois de botar os bichos na panela para servir ao bafo.
– Perde o gosto! Assim como a ostra, marisco bom é marisco vivo!
O velho marinheiro mergulhou a mão no tanque e mostrou um grande exemplar, quase do tamanho de um bife, ainda cheirando a maresia.
– A criatividade do homem quase se esgotou, só para descobrir como abrir ostras e mariscos sem cortar os dedos. A força bruta é completamente desnecessária, só prejudica o sabor dessas saborosas criaturas.
– Então, qual o melhor método?
– Para abrir os mariscos, a maneira mais fácil é botar eles no freezer durante 20 minutos, um pouco mais, dependendo do tamanho deles. Vão ficar frios, mas não congelados. Assim anestesiados, eles não conseguem se agarrar nas conchas. Depois, apoiando o marisco na mão, protegida por um pano, pressione uma faca de ponta arredondada entre as conchas, no ligeiro entalhe perto da extremidade mais pontuda. É aí que o marisco se entrega. Você corta os músculos que prendem as duas conchas. Retira a concha superior na dobradiça, junta um pouco de sal, pimenta, uma espremidela de limão, e desliza a delícia pra dentro da boca.
– O que é mais difícil de lidar: ostras ou mariscos?
– Difícil mesmo é lidar com a tartaruga. Quando você aponta o facão para cortar a cabeça, ela encolhe a cabeça pra dentro e dali não tira tão cedo. A tartaruga é um bicho encardido, não tem pescoço. Qualquer ameaça, ela encolhe a cabeça.
– Mas deve ter alguma técnica especial.
– Só tem um jeito: você pega o dedo indicador e pressiona o dedão no fiofó da tartaruga! Ela, assustada, bota a cabeça pra fora. E só aí então você passa o fio do facão na cabeça da danada!
– Onde o senhor aprendeu essa técnica?
– Na Marinha. Servi com um almirante que quase não tinha pescoço. Dava o maior trabalho botar a gravata no homem.