Marcados para sofrer

“É monstruoso como, hoje em dia, as pessoas vivem dizendo, pelas nossas costas, verdades terríveis e indiscutíveis contra nós”. A frase é de Oscar Wilde, mas pode ser dita por qualquer torcedor atleticano. É uma terrível verdade: para os rubro-negros, as tardes de domingo nunca foram tão tristes quanto nos últimos meses. Até pouco tempo, os atleticanos eram torcedores doentes. Agora, além de doentes, são uns desgraçados que vivem de maldizendo pelos cantos. Neste inverno doeram apenas os ossos, como também os sorrisos sarcásticos daqueles do Alto da Glória.

Os atleticanos não devem temer a própria morte, nem o futuro na segunda divisão. Ora, confrades do tormento, emocionalmente nós rubro-negros já estamos na divisão inferior. Só o que nos faltam são as boas-vindas e o consolo da torcida paranista.

Pior que as tardes de domingo, quando qualquer solitário foguete vindo da Água Verde é um fio de esperança, são as noites de domingo. Pizza e coca-cola foram feitos um para o outro. O que estraga o apetite não é mais a abertura do Fantástico, o hino à segunda-feira, é por desgraça ligar a televisão justamente no momento do infortúnio. Nas noites de domingo, atleticano só sente bem na locadora. Neste refúgio, com certeza não vai encontra um televisor mostrando os gols da rodada.

O dissabor é tanto que atleticano anda cortando até o rabo do cachorro. Isto para chegar em casa e ninguém o receber com a mínima manifestação de júbilo. Com tantos infortúnios, agora não é mais possível nem mesmo beber para esquecer. O futebol deixou de ser lazer, agora é obrigação, lamentava o rubro-negro, aborrecido inclusive com a proibição de vender cerveja na Arena da Baixada. Temos obrigação de torcer, mesmo assim, mas passar uma tarde de domingo sem nem mesmo um copo de cerveja é fazer do torcedor um atleta olímpico. Saudades daquelas barraquinhas de cerveja e pão com bife do velho Joaquim Américo, na curva do Pinheiro. Éramos felizes e sabíamos.

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Esta crônica é do dia 2 de outubro de 2008. Escrever sobre o Atlético é uma beleza. Basta mudar o título.