Máquina do Tempo

Para provar que Curitiba é uma cidade igualzinha a qualquer outra no mundo, nós curitibanos também não damos o devido valor ao que temos de melhor. O Sistema Trinário é bom exemplo. Enquanto outras cidades do mundo imitam descaradamente o nosso sistema de transportes, aqui nos prometem o buraco do metrô sob as canaletas. Como se o curitibano fosse um tatu.

A “Máquina do Tempo” é um outro privilégio de que os curitibanos não sabem desfrutar. Pode parecer que Alice mora aqui, na cidade das maravilhas, ou então que Júlio Verne mora no sótão do Ippuc, mas a verdade verdadeira é que, em qualquer paragem de Curitiba, basta estalar o dedo e somos transportado para além da imaginação.

No relógio da Praça Osório, por exemplo, basta estalar o dedo e a nossa “Máquina do tempo” nos levará para o topo do Edifício Moreira Garcez, onde fica o Planeta Mongo. Quem não estudou urbanismo com o arquiteto Key Imaguire saiba que o Edifício Moreira Garcez é inspirado na “Arquitetura Flash Gordon”. O que é a “Arquitetura Flash Gordon”? São aqueles prédios futuristas copiados das histórias em quadrinhos do herói espacial criado por Alex Raymond. Quase em frente à Boca Maldita, o Garcez é o primeiro arranha-céu de Curitiba. Sonho meu, gostaria muito de ver a nave espacial do Flash Gordon no topo do Moreira Garcez. Já o sonho do poeta compositor Paulinho Vítola é “Ouvir um fox trot na PRB2, e depois olhar o sol, do último andar do Garcez, caindo pra lá das Mercês, cobrindo o pinheiro de luz”. 

Não são poucos os curitibanos que desfrutam dessa “Máquina do Tempo”. No tempo em que era comum as vacas pastarem no Centro Cívico, do jeito que hoje ainda fazem muitos muares, um cronista escreveu: “Essa é a terra das fadas que lhes fará ricos e felizes para sempre.(…) Tudo é moderno e pitoresco em Curitiba. Possui ruas já bem pavimentadas, avenidas de árvores cobertas de folhas, um serviço regular de trainways, luxuosos carros puxados por gigantescos e fogosos cavalos”.

Para os futuristas, avessos a “trainways puxados a fogosos cavalos”, basta estalar o dedo no Batel e eis que um admirável mundo novo aparece diante dos olhos. Os shoppings do próximo século, com suas cavernas e labirintos de luxo, onde os curitibanos cibernéticos desfilam nas passarelas das profundezas, “do Bismo ao Abismo”.

Ao estalar do dedo, na semana passada algum curitibano que prefere as delícias do frio, acionou por conta própria a “Máquina do Tempo” e transportou a cidade do verão para o inverno. Ou melhor, para o veranico de maio. Quando nos concedem o clima da bem-aventurança.