Nas catacumbas do off (assim pedia um nosso amigo jornalista ao entrevistado), diga com sinceridade: você já escolheu em quem votar para vereador? Segundo gente do ramo, a grande maioria ainda não tem candidato. Por obrigação, o eleitor vai votar no primeiro santinho que encontrar na calçada, na boca da urna.

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Votar no prefeito é muito fácil, devido ao tempo que o candidato tem no rádio e televisão. Difícil é escolher um dos tantos candidatos a vereador. Para melhor decidir, o TRE deveria fornecer um Manual de Instruções ao eleitor.
Esse manual abriria com a frase de Mencken, para deixar bem claro como as coisas funcionam realmente na política: “A democracia é a arte e ciência de administrar o circo a partir da jaula de macacos”.

Em seguida, uma página do escritor Deonísio da Silva nos ensinaria a origem das palavras em questão, para ninguém votar no elemento com a ficha suja: “Candidato quer dizer cândido, alvo, limpo. Na velha Roma, os candidatos se vestiam de branco para mostrar que eram honestos, sem mácula, sem sujeira. Os senadores tinham cabelos brancos. Todo candidato ao Senado era senex, velho. Prefeito é do latim praefectus, do verbo praefacere, fazer antes, planejar, cuidar, proteger. Designava a autoridade que cuidava das fortificações do município, do latim municipium, de munus capere, exercer o direito, designando o lugar onde você desfruta de seus direitos”.

Já o vereador, explica Deonísio da Silva, “cuidava das veredas, das ruas e dos edifícios, por isso tornou-se sinônimo de edil, o magistrado romano que fazia a inspeção dos prédios públicos, sacros ou profanos, dos aquedutos, dos locais de banho e de divertimento etc.”.

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Quais seriam as virtudes de um vereador? Para não complicar a cabeça do eleitor (fosse assim chamaríamos um cientista político), o candidato a edil precisaria possuir 7 Virtudes, requisitos para se contrapor aos 7 Pecados Capitais:

1- Temperança (gula);
2-Generosidade (avareza);
3-Humildade (soberba);
4-Castidade (luxúria);
5-Disciplina (preguiça);
6-Paciência (ira);
7- Caridade (inveja).

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E a Honestidade, não é este um requisito fundamental? Esta virtude é a temperança, que no dicionário significa austeridade, entre outros sinônimos. Quanto aos sinônimos de ladrão, a lista é interminável: corrupto, gatuno, amigo do alheio, abafador, ladravaz, rapinador, malufista e por aí vai, conforme a região do Brasil.

Aqui no Paraná, aos 7 Pecados Capitais é preciso acrescentar o Nepotismo. Se bem que, no nosso caso, o nepotismo pode ser atribuído à Soberba, o reverso da Humildade.

Para que todos tenham uma noção das práticas comuns entre muitos vereadores, o Manual de Instruções ao eleitor deve publicar os 10 Mandamentos de um edil que não merece o nosso voto:

1- Amar o poder sobre todas as coisas; 2- Não tomar o santo nome do prefeito em vão; 3-Guardar os sábados, domingos, feriados e mais três meses de férias; 4- Honrar pai, mãe, filhos, sobrinhos e netos com cargos em comissão; 5-Não matar a mamata de ninguém; 6- Não pecar contra os financiadores de campanha; 7-Não furtar pouco; 8- Não levantar fundado testemunho; 9- Não desejar a secretária do gabinete próximo; 10 – Não cobiçar, muito menos comentar, as negociatas alheias.

No Novo Testamento, no livro de São Mateus, está escrito: “É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha que um rico entrar no Reino dos Céus”. O problema, afirmam alguns estudiosos, é que São Jerônimo, o tradutor do texto, interpretou a palavra “Kamelos” como camelo, quando na verdade, em grego, “kamelos” são as cordas grossas com que se amarram os barcos. A idéia da frase permanece a mesma, mas qual parece mais coerente?

Tanto faz, diria o Manual de Instruções ao eleitor: “É mais fácil um camelo (ou kamelos) passar pelo buraco de uma agulha que um vereador fazer a cidade entrar no Reino dos Céus”.