Ontem, Dia do Vereador, foi aqui sujerido (com j, recomenda Millôr Fernandes) que o TRE fornecesse, no período pré-eleitoral, um manual de instruções ao eleitor. Sobretudo, para esclarecer ao cidadão como escolher um dos tantos candidatos a vereador, a maioria deles ilustres ignorados pelos meios de comunicação.

continua após a publicidade

Esse manual de instruções seria uma compilação de conselhos inúteis, porque se assim não fosse a política não teria a menor graça. Na pauta do guia do eleitor, uma entrevista com um político assumidamente corrupto para mostrar como esses elementos operam, do princípio ao fim da carreira.

Otávio Eduardo Cerqueira e Silva dos Silvestres de Moraes Albores V é ex-senador, ex-deputado federal, ex-deputado estadual e ex-vereador. Eleitoralmente conhecido como Tavinho da Cesta, hoje vive de rendas públicas acumuladas e não quer mais saber de política. Cansou de tanto roubar.

Pergunta: Quais as suas origens políticas?

continua após a publicidade

Resposta: Venho de uma família de políticos desde a Proclamação da República. Todos da família começaram como vereador e chegaram a senador: Otávio Eduardo Cerqueira e Silva dos Silvestres de Moraes Albores; Otávio Eduardo Cerqueira e Silva dos Silvestres de Moraes Albores Filho; Otávio Eduardo Cerqueira e Silva dos Silvestres de Moraes Albores Neto; Otávio Eduardo Cerqueira e Silva dos Silvestres de Moraes Albores Bisneto. Para não deixar o nome ainda mais comprido, com um Tataraneto no final, fui batizado Otávio Eduardo Cerqueira e Silva dos Silvestres de Moraes Albores V. Em casa, temos fotos da família ao lado de Hermes da Fonseca, Getúlio Vargas, Juscelino, Jânio Quadros, Jango Goulart, todos os generais da revolução, Tancredo, Sarney, Collor, FHC e Luiz Inácio Lula da Silva.

Pergunta: Por que a mudança de nome?

continua após a publicidade

Resposta: Os tempos são outros, Tavinho da Cesta é uma questão de marketing. Esses nomes quilométricos de família com berço já não fazem mais sucesso, não vendem. Hoje, bom de voto é o Fulano da Farmácia, o Sicrano da Borracharia e o Beltrano da Bica d’Água.

Pergunta: E o apelido, Tavinho da Cesta?

Resposta: Elementar! Cesta básica sempre foi a minha especialidade.

Pergunta: Quais eram as suas bases eleitorais?

Resposta: Voto bom é voto de grotão. E voto comprado não sai caro, considerando-se os dividendos futuros. Porém, o mundo moderno nos fez mudar de estratégia. Antes, fazíamos comícios em cima de um caminhão de dinheiro. Hoje, aplicamos nossos investimentos na compra de rádios por este mundão afora. Sempre em nome de correligionários, um laranjal. Fica bem mais em conta e, com uma rádio aqui outra ali mais outra acolá, o lucro ainda é maior com as verbas do governo.

Pergunta: Então existem também as rádios canalhas?

Resposta: Isso é conversa para boi dormir lá na capital. Aqui no varejão, é pega lá dá cá.

Pergunta: Ideologicamente, a família é de direita ou de esquerda?

Reposta: Somos doutrinariamente governistas. Em alguns momentos, raros, como oposição fomos de esquerda. Quando voltávamos ao ninho, centro-esquerda. No Brasil, para sobreviver, até a direita é de esquerda.

Pergunta: Quanto aos gafanhotos, como lidava com os seus funcionários de gabinete?

Resposta: Na minha família nunca alguém ficou desempregado. Modéstia à parte, todos muito bem preparados para a vida pública. Se não estivessem lotados em outra repartição, estavam no meu gabinete. Se acaso o funcionário não fosse um primo, o esquema era conforme a tabela: meio a meio.

Pergunta: Qual a sua opinião sobre as pesquisas eleitorais?

Resposta: São infalíveis, para quem está na frente. No nosso caso, nunca precisamos encomendar nenhuma delas. As cestas básicas sempre foram bem mais confiáveis.

Pergunta: Que mensagem deixaria para um candidato a vereador?

Resposta: Como diria o meu amigo Paulo Maluf: “No Brasil, o político é gay, corno ou ladrão. A mim, escolheram como ladrão”. Eu também prefiro assim.