Se José Wille permitir, uma sugestão à programação da CBN. Assim como o economista comenta o bolso alheio, o advogado fala sobre o que lhe é de direito e muitos dão palpite na seara alheia (o que é saudável), a CBN Curitiba devia escalar alguém para diariamente fazer um comentário sobre a cidade, do urbanismo ao comportamento.

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Como se sabe, nove entre dez curitibanos entendem de urbanismo. A exceção, segundo alguns, chama-se Jaime Lerner. Portanto, um generalista urbano seria mais um sucesso de audiência da CBN. Curtos e concisos, os comentários observariam os mais diversos ângulos da vida da cidade. Do Ligeirinho à bicicleta, da Avenida Batel ao Beco do Mijo, do arranha-céu ao puxadinho, do Teatro Guaíra à Pedreira Paulo Leminski, do pintor ao pichador, do prefeito ao vereador e – principalmente -que provocasse um confronto entre o Ippuc e a Boca Maldita.

A sugestão ao estimado José Wille me ocorreu durante a entrevista que o arquiteto Manoel Coelho concedeu à rádio CBN. Depois de apresentar o livro que vai lançar e autografar hoje na Universidade Positivo, em torno de trinta minutos Manoel Coelho falou sobre Curitiba o que tantos candidatos a prefeito não conseguem falar durante toda a campanha eleitoral. O que talvez possa nos explicar porque os postulantes à Prefeitura de Curitiba não conseguem propor nada de novo a esta cidade que não se contenta com pouco: entre um arquiteto com a biografia de Manoel Coelho, preferem dar ouvidos aos marqueteiros que de urbanismo só entendem o que as pesquisas qualitativas dizem.

Mesmo nascido em Florianópolis, Coelho conhece tanto de Curitiba quanto Rafael Greca de Macedo, o “Rei da Macedônia” (no sentido de que o ex-prefeito é o herdeiro da linhagem ilustre dos Macedo). Num debate sobre planejamento urbano entre Manoel Coelho e Rafael Greca, as pesquisas apontariam para o empate técnico. Com uma pequena margem de erro em função do irrecuperável sotaque do catarina.

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Poderia pesar em favor do engenheiro Greca a ajuda da padroeira de Curitiba, Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. Por outro lado, em socorro do arquiteto viria São Pedro, justamente o nome do bar e restaurante do seu Isidro Coelho e dona Leandra, os pais de Manoel, que ficava num casarão histórico de Florianópolis, hoje tombado pelo Patrimônio Estadual, ao lado do Mercado e da Alfândega, bem no centro e pertinho do trapiche.

Formado na primeira turma do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Paraná, em 1962, e da geração de ouro dos arquitetos de Curitiba, em meia hora de entrevista na CBN Manoel Coelho forneceu pauta para algumas edições de jornais da capital. A começar quando ele desmonta o argumento de que Curitiba anda no “piloto automático”. Ou seja, a ilusão de que há quarenta anos a cidade está pronta, necessitando apenas de manutenção. Há quarenta anos, isto sim, Curitiba sobrevive das gorduras acumuladas nos anos de 19 70.

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Do piso ao teto, Manoel Coelho tem explicação para a atual mediocridade que tomou conta da arquitetura de edifícios residenciais e condomínios fechados. Neste quesito, retomamos ao padrão de Quinta Comarca de São Paulo, copiando aqui o que os paulistas têm de “mais ou menos”.

“Cidade do Saber”, a história do Campus da Universidade Positivo, é o livro que Manoel Coelho lança às 19:30 horas de hoje no foyer do centro de convenções daquela universidade.

Sendo “mané curitibano”, Manoel Coelho sente-se cada vez mais um brasileiro híbrido. Na última vez que esteve em Floripa, ouviu a seguinte expressão “manégauchesca”:
– Lhó-lhó-lhó…tchê!