Existem três tipos de curitibanos que andam de cabeça baixa pelas ruas.  Os atleticanos, mais envergonhados do que nunca com os últimos resultados desse time fedido; os coxas, de tão felizardos acham que ainda vão achar no chão um bilhete premiado da loteria; e a maioria absoluta são aqueles ensimesmados e cabisbaixos, preocupadíssimos com o estado de nossas calçadas.

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“Cidade Sorriso” foi um epíteto cunhado pelo poeta, jornalista e caricaturista sergipano Hermes Fontes, que em 1929 publicou uma crônica sob este título na Gazeta do Povo. Mas como o sorriso da cidade não combinou com a feição dos moradores, até hoje tentam levar o sorriso da cidade ao dentista. A jornalista Antônia (Tonica) Eliana Chagas, curitibana de coração e hoje flanando nas calçadas de Nova York, tem uma explicação para a folclórica cara amarrada do curitibano. Segundo Tonica, costumamos andar na rua de cabeça baixa, ensimesmados e cabisbaixos, por culpa de nossas calçadas. De tão mal construídas, esburacadas e onduladas, as calçadas fazem do curitibano um pedestre preocupado com a sorte das próprias canelas. Tonica prega a instituição de calçadas simpáticas e sorridentes, único jeito de acabar com essa lenda de que o curitibano que não cumprimenta ninguém, nem mesmo o vizinho. No máximo com um “Oi!”, um “Olá!”. O sonoro “Tudo bem?” só mesmo se o vizinho estiver sendo algemado, na porta do camburão.

Destes ensimesmados e cabisbaixos – inclusos coxas, paranistas e atleticanos -, todos nós estamos envergonhados com a lambança que as empresas públicas e privadas, com suas obras de expansão, deixam nas nossas calçadas. É o caso das escavações da Rua Carlos de Carvalho (na foto) e em outras ruas e avenidas, onde os desleixados deixaram para trás a prova do crime: no lugar do “petit-pavé”, a lambança no cimento.

Como se fossem pequenos inocentes, as empresas exploradoras dos serviços públicos fazem cacaca no meio da sala sem nenhum pudor: “Mamãe, acabei!”

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