Maldito vizinho

Se existe uma coisa que acaba com uma temporada na praia não é a falta de água. É o vizinho. Diferente do que pregava o filósofo Jean Paul Sartre, o inferno não são os outros, são os vizinhos. Dizem que vizinho é o parente por parte de rua. Se for assim, a hipocrisia, a sogra e o chato ao lado são os que ainda sustentam os laços de família. 

Assim como os chatos, existem incontáveis tipos de vizinhos. Entre outros, notáveis são o ausente, o xereta, o exibicionista, o surdo e o obreiro, o tipo dos mais cínicos. Todo mês de janeiro ele inventa de fazer um puxadinho novo na casa de praia, com betoneira e o escambau. Se o obreiro mora em apartamento, impreterivelmente a mulher do obreiro exige uma reforma geral no apartamento. Derrubam uma parede, botam uma coifa e até uma lareira para a temporada de inverno. E ainda tem a cara de pau de cumprimentar os do andar de cima e de baixo com um efusivo “bom dia, vizinhos!”.

Vizinho surdo é um caso de polícia, dizem otorrinolaringologistas. Mas cadê a polícia, se a própria também é surda? É o tarado dos decibéis que provoca na vizinhança certos distúrbios como o estresse, perda de audição, perda de concentração, dores de cabeça, aumento da pressão arterial, úlcera, depressão e, o mais grave, pode levar os próximos ao suicídio.

Consta que o fígado é o regulador do humor. E nada faz mais mal para o fígado do que a visita do xereta, o que mora no outro lado da rua do ausente:

– Vizinho, desculpa atrapalhar o seu churrasco, mas você poderia me emprestar uma xícara de açúcar para a minha caipirinha?

E o xereta não sai mais.

O pior dos vizinhos é o exibicionista. Este é o vaidoso que compra um carro novo em dezembro só para causar inveja. E ainda entra na rua buzinando. O exibicionista come sardinha, arrota camarão e no facebook mostra lagostas à mesa. Com esses a melhor tática de relacionamento é telefonar uma semana antes do Natal para os cumprimentos de praxe:

– Feliz Natal, próspero ano novo e, por falar nisso, quando você começa a temporada de praia?

Se o exibicionista descer a serra em janeiro, programe o seu verão para fevereiro. O que os olhos não veem, o fígado não sente.

Maldito vizinho é o vizinho ausente. Longe dos olhos, nos leva à loucura. Este é torturante. O alarme de sua casa tem hora marcada para disparar. De fabricação inglesa, presume-se, é mais pontual que o Big-Ben: justamente na hora do sono o alarme do maldito vizinho passa horas infernizando a vida dos viventes da área.

O filósofo Friedrich Nietzsche dizia que, de maneira geral, o nosso próximo não é o nosso vizinho, mas o vizinho deste. Maldito vizinho é o bem mais próximo.