Mago das Araucárias

Quando me perguntam que bicho vai dar nas eleições, respondo que ainda não consultei o mago Sana- Khan. O cenário político parece uma nebulosa de alguma galáxia alhures, entre astros e estrelas. De tão surpreendente e confuso, melhor seria ressuscitar o Mago das Araucárias. O paranaense que chegou a prever o futuro de Getúlio Vargas.

Quarta-feira, 1º de janeiro de 1930. No olho de um furacão que faria tremer o território brasileiro, o candidato Getúlio Vargas foi comemorar o Ano Novo no Rio de Janeiro. Na suntuosa recepção do Hotel Glória, afundado no sofá e com o inseparável charuto na boca, Getúlio mantinha os olhos colados em um homem magro e tímido sentado ao seu lado, um mago a quem acabara de entregar as mãos.

Quem era o mago? Era um paranaense. No livro 1930 (Os órfãos da revolução), o jornalista e escritor Domingos Meirelles nos revela: “O mago Sana-Khan, que dizia ter a faculdade de prever o futuro, fora levado ao Glória pelo deputado paranaense Correia de Freitas e o jornalista Júlio Hauer, diretor de O Dia, de Curitiba. Freitas e Hauer falavam maravilhas de suas profecias, invocaram Maurício de Lacerda como testemunha de algumas premonições. Os três ouviram, certa vez, o mago dizer que a primeira República cairia com uma revolução, Washington Luís seria sucedido por um gaúcho civil e, este, por um militar. O presságio ocorrera muito antes da criação da Aliança Liberal, como próprio Lacerda poderia confirmar”.

Maurício de Lacerda, esclareça-se, era o pai do ex-governador carioca e também explosivo orador Carlos Lacerda. Quanto à identidade do mago, Meirelles só esclarece que aquele homem magro e tímido vivia recluso em Curitiba, onde fazia palestras e escrevia livros esotéricos.

Não se tratava de “arte de ciganos”, como rezava o preconceito, mas de uma ciência como a astrologia, esclarecera Sana-Khan, antes de iniciar o trabalho. Após examinar as mãos de Vargas, em silêncio, o Mago das Araucárias revelou, transfigurado:

Vossa Excelência será o presidente do Brasil pela força das armas!

Altos próceres da Aliança Liberal, entre eles Flores da Cunha e Lindolfo Collor (pai de Fernando Collor), assistiam as profecias de pé, ao lado do baixinho que se apresentava aos cariocas como adversário do paulista Júlio Prestes. Vargas ficou inebriado. A cada profecia extraía densas baforadas do charuto, demonstrando especial interesse pelo que ouvia.

Sana-Khan, que observava as mãos do candidato da Aliança com ar profissional, chama a atenção para um sinal precioso na mão direita:

 Uma bela estrela, como esta, na região chamada de Júpiter, já é bem rara. Vossa Excelência tem quatro estrelas! Uma na mão direita e três na esquerda. Júpiter, o rei dos deuses, encarna liderança, governo, lei, suprema magistratura. Vossa Excelência nasceu predestinado como homem de governo.

Meia hora depois, trôpego de sono, Vargas despediu-se dos amigos. Ao se ver sozinho no elevador, contemplou extasiado as linhas e os sinais que tanto o impressionaram. Parecia convencido pelo Mago das Araucárias de que o destino do País estava em suas mãos. Como de fato estava.