Irmã Celia Cadorin.

Neste Dia das Mães, o papa Bento XVI deve uma homenagem especial à mãe dos dois primeiros santos do Brasil, porque mãe de santo no Brasil só tem uma: irmã Célia Cadorin, a mãe canônica de Frei Galvão e Madre Paulina. Irmã em Roma, somos testemunhas dos seus milagres: no Vaticano, agora as portas se abrem sozinhas para a coloninha neotrentina.

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O primeiro trabalho de parto dessa mãe espiritual se concretizou no dia 18 de outubro de 1991, quando o papa João Paulo II anunciou, em Florianópolis, a beatificação de Amabile Visintainer, Madre Paulina. Questionada do porquê de o Brasil ter demorado cinco séculos para ter um santo, irmã Célia, com toda sua simplicidade, respondeu na época:

– Nós não sabíamos conduzir um processo.

A especial vocação materna de irmã Célia Cadorin começou em 1982, quando foi convocada para trabalhar no Processo de Beatificação e Canonização de Madre Paulina, em Roma. Causa que abraçou do zero, com fé e uma invulgar energia. Irmã Célia enfrentou grandes dificuldades.

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Teve que abrir portas por conta própria, entender os complicados trâmites do Vaticano, e nunca desanimar. Seguiu à risca uma das mensagens mais fortes de Santa Paulina: ?Embora venham ventos contrários, não desanimeis, jamais!?.

Agora, a religiosa tem ?a chave do cofre?. Esta ítalo-brasileira miúda, mas cheia de energia, acaba de fazer nascer o primeiro santo brasileiro: Santo Antonio de Sant?Anna Galvão. Todos os trâmites da canonização de Frei Galvão foram encaminhados ao Vaticano por Célia Cadorin. Meticulosa, juntou prontuários e laudos médicos, colheu depoimentos sob juramento a um tribunal eclesiástico de médicos, enfermeiros e testemunhas. O material foi submetido à Congregação para a Causa dos Santos, em Roma, integrada por teólogos, sacerdotes e uma comissão médica, formada por 70 profissionais de diversas áreas.

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Há 60 anos, irmã Célia se dedica à vida religiosa. Filha mais velha dos ítalo-brasileiros Ignez Gulini e Jordão Cadorin, Célia nasceu em Nova Trento, em 20 de janeiro de 1927. Ali, fez o curso elementar. Ali, ainda menina, seguiu para São Paulo, onde cursou o segundo grau. Nessa época, a noviça conheceu pessoalmente Madre Paulina, já então diabética, já então destituída do comando da congregação que fundara.

Aos 20 anos, em 21 de janeiro de 1947, a coloninha se tornou irmã Célia Cadorin, da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição. Formou-se em Letras Neo-latinas e acumulou, ainda, a tarefa de ajudar na formação de novas aspirantes à vida religiosa. Coordenou a Comunidade do Educandário Sagrada Família, em São Paulo. De volta a Santa Catarina, foi superiora provincial em Itajaí e tornou-se secretária da Regional Sul IV da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, com sede em Florianópolis.

Vai longe o tempo, quando a filha mais velha de uma numerosa família colhia uvas para fazer o vinho de Nova Trento. Irmã Célia é hoje uma autoridade respeitada nos círculos vaticanos. Virou referência de trabalho sério, bem-feito, de acordo com todas as regras milenares da Igreja.

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Célia Cadorin era amiga e contemporânea de minha mãe, Cremilda Tridapalli, falecida em agosto passado. Estivemos com a irmã em Roma, somos testemunhas dos seus milagres: no Vaticano, agora as portas se abrem sozinhas para a coloninha neotrentina.