Lutando com a língua e o relógio (2)

Em suas memórias da Guerra Civil Espanhola – ao lado de stalinistas, trotsquistas e anarquistas -, o escritor George Orwell deixou escrito que todos os estrangeiros que serviam nas milícias passavam as primeiras semanas lutando com a língua e aprendendo a amar os espanhóis, mesmo perdendo a paciência com algumas de suas características.

“Na linha de frente – conta o autor de ‘A revolução dos bichos’-, minha exasperação às vezes atingia o ápice da fúria. Os espanhóis são bons em muitas coisas, mas não em fazer guerra. Todos os estrangeiros ficam igualmente estarrecidos com a ineficiência deles, sobretudo com sua enlouquecedora falta de pontualidade”.

Para Orwell, a palavra espanhola que nenhum forasteiro pode deixar de aprender é “mañana” – amanhã. Sempre que possível, ou impossível de se imaginar, adia-se o trabalho de hoje até “mañana”. Por que fazer hoje o que se pode fazer “mañana”? – o ditado popular era tão notório que até os espanhóis faziam piadas a respeito.

Inclusive um conhecido cartum existe sobre o tema – adaptado para o México -, onde alguém chega correndo para acordar o Super-Homem, que está fazendo sua “siesta” na sombra:

– Super-Homem! Venha nos socorrer, estamos sendo assaltados!

– Mañana!” – responde o super-herói de origem ibérica.

“Na Espanha – segundo o escritor que hoje tem uma bela praça com seu nome em Barcelona – nada, de uma refeição a uma batalha, jamais ocorre na hora prevista. Um trem que deve partir às oito, normalmente partirá a qualquer momento entre nove e dez, mas talvez uma vez por semana, graças a um capricho íntimo do maquinista, ele parta às sete e meia”.

Na Espanha moderna, os maquinistas não fazem do relógio um capricho íntimo. Com suas locomotivas voadoras, agora a pontualidade é uma questão de honra. Nos 3.100 km de trilhos, os trens espanhóis de alta velocidade (AVE) operam na mais extensa rede de alta velocidade da Europa. Na velocidade de até 310 km/h, a viagem de Madri a Barcelona dura menos de 3 horas! Partindo de Barcelona, Paris é logo ali.