Não é de hoje, há muito estamos desconfiados que São Pedro não é lá dos mais simpáticos com os brasileiros. Se não é seca no nordeste, é dilúvio no sul. E, para agravar a situação, o inamistoso desafiou o próprio presidente da República: “Marolinha? O Lula vai ver o tamanho das nuvens que vou estacionar sobre Santa Catarina!”.

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A Madame do Batel, enquanto separava os adjutórios para os flagelados, falava com uma amiga ao celular:

– Querida, estou em dúvida para essa temporada de verão. Não sei se levo para praia guarda-sol ou guarda-chuva!

Segundo os entendidos em tempo bom e tempo ruim (os que fazem a previsão do tempo consultando apenas as fases da Lua), São Pedro vai continuar implicando com a gente até março do ano que vem.

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“É a chuva chovendo, é conversa ribeira / Das águas de março, é o fim da canseira”.

Acredite se quiser, alguns provérbios sobre a relação da Lua com a previsão do tempo são infalíveis.

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– Lua nova trovejada tem três dias de molhada; se no quarto continua, é molhada toda a Lua.

– Lua nova de setembro trovejada, trinta dias é molhada.

– Lua pálida é chuvosa; vermelha é sempre ventosa; se branca fica, belo tempo nos indica.

Lua cheia nunca trouxe água; só chove nos Quartos.

– Se vires a lua vermelha, põe pedra na telha.

– Se a Lua tem o círculo longe, água perto; se tem o círculo perto, água de longe.

– Lua com círculo e estrelas dentro, ou chuva ou vento.

– Lua nova trovejada, trinta dias é molhada e, se for a de setembro, até março irá chovendo.

Eu não creio em luas ou bruxas, mas que elas existem, existem. Portanto, convém seguir o exemplo da Madame do Batel e decidir, desde já, o que levar para a praia nesse verão: guarda-sol ou guarda-chuva?

Fico com o guarda-chuva, mais um par de galochas. São Pedro não perdoa e Lula abusou, quando desafiou as forças sobrenaturais, ao afirmar que o Brasil seria atingido apenas por uma marolinha. Ainda bem que o presidente sobrevoou Blumenau e viu o tamanho da marola. A bordo do helicóptero, o companheiro-presidente deve ter ficado convencido, definitivamente, que a crise é grave e exige ações governamentais urgentes. Antes e depois da lua nova de Setembro, vejamos as declarações do presidente:

1. “Bush, meu filho, resolve a tua crise!” (30/3/2008).

2. “Que crise? Pergunta para o Bush!” (17/9/2008).

3. “O Brasil, se tiver que passar por aperto, será muito pequeno!” (29/9/2008).

4. “A crise é muito séria e tão profunda que nós ainda não sabemos o tamanho!” (30/9/2008).

5. “Até agora, graças a Deus, a crise não atravessou o Atlântico!” (22/9/2008).

6. “Lá, a crise é um tsunami. Aqui, se chegar, vai ser uma marolinha, que não dá nem para esquiar!” (4/10/2008).

7. “Queremos que esse tema da crise seja levado ao Congresso!”

8. “Ninguém está a salvo e todos os países serão atingidos pela crise!” (8/10/2008).

***

Estudei dois anos em Blumenau, no Colégio Pedro II. Professor Floriani era o nosso mestre de Português. Aliás, o escritor Roberto Gomes, nascido em Blumenau, também foi aluno dele. Recordamos de Floriani como o professor brilhante e extremamente severo que fumava na sala de aula, com um detalhe espantoso para os dias de hoje: ensinava com o cigarro na boca, e a cinza não caía nunca. Solteirão, grande professor e grande boêmio, os alunos mais velhos chegavam a confraternizar com Floriani na zona do meretrício local, que tinha o nome de Tabu.

Nas provas finais de dezembro, com péssimas notas em Português, professor Floriani nos dizia:

– Quem chega ao fundo do poço é balde! Vamos trabalhar, rapaziada!

Com Floriani, nunca cheguei ao fundo do poço. Mas faltou pouco.

Aqui de longe, vendo a tragédia do Vale do Itajaí, não posso deixar de lembrar do professor Floriani. Sempre de gravata, camisa branca, quase careca e com a cinza do cigarro que não caía nunca.

Quem chega ao fundo do poço é balde. Como sempre, Blumenau vai se recuperar.

Apesar da Lua de Setembro, de São Pedro e da marola do Lula.