Jornalista e ex-técnico de futebol, Borba Filho conhece como poucos o futebol, a torcida e, por consequência, a violência nos campos da América Latina. Responsável por observar e repassar aos treinadores os pontos fracos e positivos dos adversários, Borba muito ajudou o Clube Atlético Paranaense a chegar às finais da Libertadores e às semifinais da Copa Sul-americana, em 2006.
– Este criminoso episódio na Bolívia pode mudar o comportamento das torcidas organizadas? Especialmente do Corinthians?
Borba: Infelizmente, não creio. Como sempre, acontecerá um recuo, mas depois tudo passa como num tsunami. Não sei qual é o fenômeno, mas esse pessoal é compulsivo.
– Na América Latina, quais seriam os torcedores (loshinchas) mais violentos e fanáticos?
Borba: Não existem as maisou as menos. As “barras” como são chamadas na América hispana “falam” a mesma língua das nossas. A violência das torcidas é idêntica em qualquer idioma.
– Envolvendo torcedores, cite um episódio que gostaria de esquecer.
Borba: São vários, mas o que mais me chocou foi o massacre a pauladas de um jovem de 16 anos, em 1995, no Pacaembu, entre torcedores do São Paulo e Palmeiras. E era um jogo de juniores.
– A punição do Corinthians foi justa ou deveria ser mais severa?
Borba: Foi justa à medida que o clube contribuiu e contribui para que esse pessoal das ditas organizadas esteja presente em qualquer lugar, financiando viagens e fazendo vista grossa às irregularidades que praticam. Ou você acha que esse pessoal pode viajar para lá e para cá, ficar uma semana ausente, comendo e bebendo às suas próprias expensas? De onde o dinheiro?
– No caso de Curitiba, quem deveria se responsabilizar pelo vandalismo urbano envolvendo torcedores?
Borba: Todos! Clubes, poder público, torcedores, polícia, autoridades em todos os níveis. Cobrar prejuízos dos clubes é tapar sol com peneira. O problema é de prevenção e repreensão; prisão e punição severas.
– Um sinalizador e um revólver, num estádio de futebol, não seriam a mesma coisa?
Borba: Uma atitude covarde e irresponsável. De quem porta e de quem permite. Ao invés de apontar um revólver, aponta-se um sinalizador.