Com a devida licença do autor, alguém precisa fazer uma versão para o Mercosul de Los 3 Inimigos, o insuperável sucesso do cartunista Tiago Recchia. Seriam Los 2 Inimigos, onde brasileiros e o argentinos viveriam em guerra nas praias de Santa Catarina.

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Um dos capítulos desta contenda que não terminaria nunca aconteceu sábado passado na Praia Brava, em Florianópolis. Foi uma das maiores pancadarias entre argentinos e brasileiros na ilha. Tudo começou quando um pescador que usava uma tarrafa pediu para um turista que estava na água se afastar do local da pesca. O turista não gostou e reclamou. Foi o suficiente para dar início a uma briga que rapidamente se generalizou. Coisa medonha, garantem testemunhas. Entre elas Frederico Franco, o vice-presidente do Paraguai que passa as férias de pernas para o ar numa das 42 praias da ilha.

Para quem gosta de ver Los Hermanos apenas em Buenos Aires, e nada mais além disso, aconselha-se ficar longe de Florianópolis. Segundo o colunista Cacau Menezes, depois dos paulistas na virada de ano (quando eles aproveitam para rasgar dinheiro), agora são os argentinos que tomam conta de Jurerê Internacional: “Vieram em família ou com amigos. Não abrem mão de uma bolinha na beira do mar. Jogam com os pés, um contra um, até tênis. Se divertem mais do que nós, ilhéus, que perdemos a liberdade de brincar de farofeiros”.

Os que têm alergia a “água viva” e argentinos que passem ao largo de Bombas, Bombinhas, Porto Belo, Itapema e Balneário Camboriú. Desta babel oceânica, especialmente, mantenham distância porque o bicho pegou!

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Outro capítulo para Los 2 Inimigos, conflito do Cone Sul que daria um longa metragem para ganhar o Oscar de filme estrangeiro, se passou em Balneário Camboriú há cerca de dez anos e vem se repetindo a cada nova temporada de verão. Só mudam os personagens e o campo de batalha, mas os adversários continuam os mesmos.

Enquanto um milhão e meio de pessoas se acomodam nos sete quilômetros da orla de Camboriú, postam-se de um lado a seleção brasileira praiana, com a gloriosa camisa amarela pentacampeã do Brasil; do outro lado, a escalação de turistas, envergando a temida azul-celeste.

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Mediando a porfia, um invocado baixinho de Mato Grosso. A regra é clara, alertou o baixinho: trinta minutos para cada lado, bola na segunda onda é lateral, não vale pé no ouvido e quem xingar a mãe do juiz vai pro chuveiro do quiosque. Soa o apito e rola a pelota, num aperitivo do que foi em 1825 a Guerra Cisplatina, o conflito armado entre o Império do Brasil e a Províncias Unidas do Rio da Prata.

No primeiro ataque brasileiro, o pé-vermelho dá um chapéu no Topo Gigio de Corrientes e abre o placar. No segundo tempo, a Argentina passa a pressionar. Como sempre, a torcida portenha bota o time pra frente. Os brasileiros recuam, sentindo a reação inimiga, quando aos 45 do segundo tempo sai o gol de empate argentino.

Na prorrogação, confusão na área argentina. Empurra daqui, empurra dali, o paulista bate o escanteio e o baixinho de Mato Grosso aponta pênalti para o Brasil.

E por supuesto, yo no tengo palavras para narrar la pancadaria. Os portenhos partiram pra cima do baixinho com cocos verdes nas mãos, enquanto os canarinhos atacavam com os tijolos de um prédio em construção.

Horas depois, ainda escondido na delegacia, declara o árbitro ao escrivão:

– Empatar com os gringos, aqui na nossa praia… nem sobre o meu cadáver!

***

Fica para outro dia o entrevero entre um argentino e um brasileiro que, depois de longa discussão sobre qual seria o melhor vinho para beber com churros, partiram para a ignorância.

Vinho com churros? Nas praias de Santa Catarina têm dessas coisas.