O sinistro causado pelo curto-circuito na fiação da Prefeitura de Londrina, e que torrou dois prefeitos de uma só vez, deixa indicativos de como acabar com incêndios dessa natureza. Além das reformas políticas, a reforma geopolítica também se faz necessária, concedendo autonomia a determinadas cidades do Brasil. Londrina é uma delas. 

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O debate separatista no Brasil precisa ser mais aprofundado. Não que a discussão implique em novas divisas geopolíticas, uma cisão republicana. Apenas uma maior autonomia política para as diversas cidades ou regiões do país, que poderiam optar, através de plebiscito, por qualquer forma de governo: monarquia, anarquismo, autocracia, autoritarismo, absolutismo, despotismo, ditadura, parlamentarismo, comunismo, socialismo, aristocracia, meritocracia, plutocracia ou a cleptocracia, o que seria o caso de Londrina.

Os privilégios de livre-arbítrio político só seriam concedidos às cidades e regiões com características especiais e com notória vocação separatista, como é o caso do Rio Grande do Sul, o sudoeste do Paraná (Pato Branco e Francisco Beltrão, onde já ocorreram conflitos como a Revolta dos Posseiros) e Londrina – esta a primeira cidade que mereceria decidir o seu próprio destino, pois no norte do Paraná a secessão urbana vem de longe. 

Aliás, no verbete do Aurélio, a palavra secessão vem acompanhada de uma frase do politicamente incorreto Monteiro Lobato, bem apropriada ao norte do Paraná: “Vocês no Brasil, por míngua de desenvolvimento econômico, a qual por sua vez decorre da falta de ferro, estão ameaçados duma tal intensificação de regionalismo que não me admirarei se desfechar uma secessão”.

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Uma das cidades mais guerreiras do Brasil, como provou na resistência democrática contra a ditadura, a tribo pé-vermelha não merece ser convocada às urnas para separar o joio do trigo e, no final da jornada, guerrear em função do joio.

Por livre arbítrio, se Londrina optar definitivamente pela cleptocracia, desrespeite-se os lerdos do Judiciário, restaure-se o poder concedido anteriormente e que se locupletem todos. Caso a plutocracia for a mais conveniente forma de governo, que o próximo prefeito seja o escolhido entre os sócios do Country Club. O absolutismo é uma opção a se considerar, mas caso a monarquia venha a vencer, a nação pé-vermelha, livre e soberana, que leve ao trono o novo rei de Londrina, a ser ungido pela força dos aplausos: Domingos Pellegrini Junior I, Mário Bortolotto I ou Arrigo Barnabé I.

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(Com pequenos cortes e retoques, esta crônica de outubro de 2008 parece que foi escrita ontem)