Num jantar em torno de um confrade da Academia Paranaense de Letras, o professor doutor René Dotti nos contava que certa vez um notável jurista brasileiro lhe confidenciou um pedido que fazia aos melhores amigos: de forma alguma, que não dessem seu nome a nenhum prédio público, principalmente se fosse do sistema penitenciário.

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Tasso da Silveira, poeta paranaense, com muito orgulho teria emprestado seu nome a uma escola pública. No entanto, se hoje estivesse a encontrar amigos na lendária Confeitaria Colombo do Rio de Janeiro, estaria lamentado não só a barbárie no bairro do Realengo, como também o fato de que doravante seu nome está reduzido ao local do crime. Por não ser um poeta de máxima magnitude, se perguntarmos quem foi Tasso da Silveiraa resposta será a mesma em qualquer rua do Brasil: Tasso da Silveira é o local onde as crianças foram assassinadas.

Tasso da Silveira (Curitiba, 1895/ Rio de Janeiro, 1968), primeiro ocupante da Cadeira Número 5 da Academia Paranaense de Letras, era filho de Silveira Neto (1872/1945), um dos grandes intelectuais da história do Paraná que, além de escritor e poeta, estudou gravura e desenho na Escola de Belas-Artes do Paraná.

Numa época (como ainda hoje) em que seus mais brilhantes filhos tinham que atravessar o rio Atuba para mostrar o seu valor (Pregava o poeta Newton Sampaio: “Existem, no Paraná, cultores das letras. Em proporção, porém, não há leitores. Ou melhor. Há deles apenas um número bem ridículo”), Tasso da Silveira também foi peregrinar no Rio de Janeiro. Por aqui já esquecido, recentemente foi lembrado no livro “Joaquim: Dalton Trevisan (en) contra o paranismo”, de Luiz Cláudio Soares de Oliveira: “Entre outros de atuação mais ampla dos anos 20 aos 50, e também com vivência fora do Paraná, podemos citar Tasso da Silveira, que certamente teria recebido influências literárias do pai, o simbolista Silveira Neto e do modernismo sobre o qual propôs uma reação espiritualista, de cunho religioso e moralista”.

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No Rio de Janeiro, Tasso da Silveira formou-se bacharel em Direito em 1918. Funcionário da Casa da Moeda, fundou e dirigiu várias revistas e jornais, foi professor de Literatura Portuguesa e elegeu-se deputado estadual do Paraná em 1930.

Em 1956 recebeu da Academia Brasileira de Letras o prêmio Machado de Assis, pelo conjunto de obras como “Os cavalos do tempo são de vento. / Têm músculos de vento, / nervos de vento, / patas de vento, crinas de vento. / Perenemente em surda galopada, / passam brancos e puros / por estradas de sonho e esquecimento”.

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Ex-aluna de Literatura Comparada, a carioca Cecília não esqueceu do mestre: “Quantas vidas jovens e esperançosas ceifadas! E o nome da escola? O nome de um poeta tão sensível ligado a uma ação inominável!”.